Artigo de divulgação de cav – Triple play
Mariana
Santos Silva
André Ávila
Machado
Instituto Superior Técnico - Taguspark
Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 2744-016 Porto Salvo
E-mail: {andre.machado, mariana.silva}@tagus.ist.utl.pt
5. TRANSMISSÃO DE DADOS NA INTERNET
Este
artigo apresenta um estudo sobre o Triple-Play. O Triple-Play é um serviço,
actualmente oferecido por diversas operadoras por todo o mundo, que combina a
disponibilização de voz, dados e vídeo sob um único canal de comunicação de banda larga.
Neste
artigo vamos analisar o ambiente em que se desenvolveu o Triple-Play, as
soluções de redes de acesso e apresentar uma visão geral do modelo de negócio
que impulsionou o crescimento desta tecnologia.
Numa
fase posterior iremos analisar cada um dos serviços oferecidos pelo Triple-Play
em pormenor, estes serviços incluem VoIP, IPTV e transmissão de dados na
Internet. Para cada um destes serviços vão ser explicadas as arquitecturas e as
principais funcionalidades.
Termos chave— convergência das redes IP, Redes de acesso, VoIP, IPTV,
Internet
A diferenciação dos serviços de
voz, Internet e televisão é um conceito que tem vindo a desaparecer ao longo dos
tempos. Com o aparecimento das redes convergentes, várias soluções de partilha
de serviços numa mesma rede têm surgido.
Fig.1 –
Convergência de infraestruturas e serviços [1]
As
redes convergentes vão permitir a existência de um ambiente multiserviços, onde
vários serviços são disponibilizados a um cliente num único acesso e onde é
possível aceder a um dado serviço por diferentes acessos.
É neste
contexto que a solução de Triple-Play
se enquadra. Através de uma plataforma Triple-Play como por exemplo a NEC [2], é possível que as operadoras ofereçam aos clientes, os
serviços de voz, televisão e Internet a que estamos habituados num único
acesso, com uma qualidade de serviço assegurada, onde cada serviço apresente
qualidade igual ou superior ao que já ofereciam quando diferenciados.
A disponibilização de serviços
de vídeo, dados e voz sobre a mesma infraestrutura constitui o novo paradigma
para os operadores de rede fixa, orientado no sentido da convergência de redes [3]. O modelo de negócio adoptado
pela maioria das operadoras telefónicas e ISPs no enquadramento do triple-play,
reside na rentabilização da infraestrutura instalada, através da criação de
novas fontes de receita. O IPTV e o VoIP enquadram-se neste modelo uma vez que
permitem reaproveitar as infraestruturas já existentes na apresentação de um
produto capaz de competir com as operadoras de cabo e satélite. A
escalabilidade e abrangência de uma rede IP, num ambiente controlado permite
que os operadores ofereçam serviços competitivos e superiores aos oferecidos
por outras soluções, a um custo mais reduzido. Por outro lado, as operadoras
aliciam os clientes com a oferta de três serviços num único contrato,
facilitando todo o processo de pagamento por parte do utilizador final.
O
Triple-Play pode ser transportado e disponibilizado ao cliente através de
vários tipos de acesso físico, escolha esta que depende do tipo de rede já
existente em cada operador (cabo coaxial, cobre ou fibra).
Um dos
principais desafios para as operadoras é definir uma topologia para rede de acesso
que possibilite a oferta de serviços triple play e garanta os requisitos
necessários para cada aplicação.
Entre
as principais alternativas, surgem topologias baseadas em ATM (Asynchronous
Transfer Mode) e Ethernet.
Fig 2. Rede de Acesso
baseada em Ethernet [13]
A
Figura 2 exemplifica uma alternativa, baseada em Ethernet. Nesta alternativa,
alguns dispositivos têm funções específicas, tais como:
• DSLAM: O dispositivo Digital Subscriber
Line Access Multiplexer recebe sinais transmitidos pelas múltiplas conexões dos
assinantes do serviço DSL (Digital Subscriber Line) e encaminha-os através de
uma rede de alta velocidade utilizando técnicas de multiplexação.
Alguns
DSLAMs além de possibilitar a classificação de tráfego em VLANs (Virtual Local
Area Network), suportam requisitos de QoS (Quality of Service), como diffserv e
filas de prioridade, e ainda possuem habilidade para filtrar pacotes.
Dependendo
do fabricante do produto, o DSLAM pode ligar-se a um backbone através de redes
ATM, Frame Relay ou Gigabit Ethernet.
• Splitter: Este dispositivo possibilita
a separação entre a frequência destinada à voz, através de um aparelho
telefónico convencional ligado a uma PSTN (Public Switched Telephone Network),
e a frequência destinada aos dados, que podem incluir voz e vídeo.
A
tarefa do splitter é relativamente simples, pois as operadoras de telefone fixo
utilizam frequências baixas e bem definidas, tipicamente entre 300 Hz e 4000
Hz, facilitando o trabalho de separação. A Figura 3 apresenta um exemplo de distribuição de
frequência.
Fig 3. Frequências da linha telefónica [4]
• BRAS: De acordo com a definição de
Marcio Lobo [5], o dispositivo Broadband Remote Access
Server encaminha o tráfego entre o DSLAM e a rede IP da operadora. A gestão das
políticas de utilização, assim como dos parâmetros referentes à qualidade de
serviço, são algumas das funções do dispositivo BRAS. Além disso, cabe ao BRAS
controlar as sessões PPP dos clientes sobre redes IP ou ATM.
O DSLAM
tem uma função importante como concentrador de tráfego na topologia
apresentada, isso acontece porque este
equipamento está situado no ponto de troca de dados entre a operadora e a rede
de “last mile” (final da rede, acesso ao cliente). Desta forma, caso o DSLAM
esteja associado à tecnologia de IP Multicast no backbone da operadora, ele
será capaz de reduzir significativamente o tráfego no backbone, possibilitando
o envio de um único fluxo de dados para cada canal. A quantidade de canais
passa a depender exclusivamente da capacidade do backbone. Do DSLAM para o
assinante, a transmissão ocorre em unicast.
Em
Portugal temos duas operadoras com capacidade de oferecer o serviço de
Triple-Play, que são ao mesmo tempo ISP (Internet Service Provider) e NSP
(Network Service Provider – Os NSPs alugam a sua rede a outros ISPs que assim
podem oferecer os seus serviços). A TVcabo (cabo coaxial) e a PT comunicações
(fibra e cobre) são exemplos de NSPs em Portugal.
O
serviço Triple-Play da PT a ser lançado no final de Maio de 2007, oferece
débitos de apenas 8 Mbps devido às limitações da sua rede antiga de cobre. Numa
fase posterior pretendem remodelar a sua rede instalando FTTN (Fiber to the
Node) ou em alguns casos FTTB (Fiber to the Building), de forma a aumentar o débito
oferecido para 40 Mbps.
Figura 4. Arquitectura futura da rede da PT de suporte ao
Triple-Play [4]
Rapidamente
se conclui que não é a rede de acesso que representa o sucesso de uma ou outra
operadora, a tecnologia não é o problema, ela existe e é bem conhecida por
todos. O sucesso passa pelo modelo de negócio adoptado por cada operadora,
serviços oferecidos e formas de pagamento entre outros factores que possam
influenciar o cliente na sua escolha.
VoIP (Voice over Internet Protocol) é um serviço
em que o utilizador estabelece chamadas telefónicas através de uma rede de
dados, convertendo um sinal de voz analógico em digital, segmentando-o em
pacotes com endereços IP, que são trocados entre um emissor e um receptor
através de uma ligação IP.
Como
este serviço opera sobre uma rede IP, existem algumas vantagens inerentes a
este protocolo em relação à disponibilização de vários serviços numa mesma
infraestrutura. Esta vantagem implica uma redução do custo tanto para os
operadores como para os utilizadores, dando também possibilidade de oferta de
novos serviços valorizados pelos clientes (interactividade).
As
chamadas VoIP podem ser computador-computador (arquitectura PC-a-PC),
telefone-telefone (arquitectura com “Gateway”) ou computador-telefone
(arquitectura Híbrida) que contém também um VoIP gateway entre o telefone e a
Internet [6].
As
desvantagens apresentadas pelo serviço VoIP em relação à linha telefónica
convencional devem ser analisadas em função dos equipamentos de comunicação que
o utilizador dispõe.
Se o
utilizador tinha linha telefónica e acesso à Internet de banda larga, e agora
apenas utiliza VoIP num terminal PC, o serviço VoIP apresenta algumas
desvantagens:
[1]
Apesar do encaminhamento das chamadas
para os serviços de emergência dever ser assegurado pelos prestadores de
serviços VoIP, existem dificuldades técnicas na determinação da localização
precisa do terminal VoIP (localização variável).
[2]
O serviço VoIP não funciona quando
falha a energia eléctrica e o prestador do serviço não fornece energia de
socorro. No entanto, esta desvantagem pode ser ultrapassada se se dispuser de uma
fonte de alimentação constante, convenientemente dimensionada.
As
redes telefónicas começaram com a técnica de codificação PCM (Pulse Code
Modulation – Modulação por Codificação de Pulsos), que consiste em 8.000
amostras do sinal de voz contínuo por segundo, representando o valor discreto
amostrado em 8 bits. Isto implica a necessidade de um canal digital de 64Kbps
para transmissão de cada canal de voz. Este tipo de codificação procura
reproduzir o sinal amostra por amostra. Possui baixo atraso para o processo e
pequena complexidade, mas requer uma taxa de transmissão elevada tornando-se
insustentável.
Ao
longo dos anos, novas técnicas de codificação foram desenvolvidas, explorando
os modelos de produção da voz. Estas técnicas segmentam o sinal analógico em
intervalos periódicos, para formação de tramas após a digitalização. A taxa
necessária para esta técnica de codificação é baixa, mas o atraso e a
complexidade são elevados, em comparação com a técnica descrita no parágrafo
anterior.
Como o
IP, por si só, não oferece nenhuma garantia de Qualidade de Serviço,
categorizado como tráfego de best-effort, outros protocolos e soluções
complementares devem ser agregados na formação da solução final, para
permitirem um resultado comparável com o observado na rede de voz convencional.
Define-se como Qualidade de Serviço (QoS) o conjunto de requisitos necessários
a uma aplicação, para a qual se exige que parâmetros como atraso (não superior
a 300 ms), jitter, banda, perdas, etc., estejam dentro de limites bem
definidos.
Para
garantirmos Qualidade de Serviço no VoIP, temos que ter em consideração três
factores muito importantes. O primeiro é que o jitter (variação de tempo entre
a chegada de pacotes) tem que ser próximo de zero, pois um jitter elevado faz
com que a conversa tenha um efeito de “soluços”. Outro factor que contribui
para este efeito na conversa é a perda de pacotes, pois numa conversação não
nos podemos dar ao luxo de ter retransmissões de pacotes. Por último, o atraso
inicial é muito importante que não seja superior a 200 ou 300 ms, pois caso
contrário teremos um fenómeno de falta de realismo de comunicação que é
essencial na concorrência à telefonia normal.
O QoS
depende também dos Codecs utilizados. No VoIP são, normalmente, utilizados codecs
que comprimem o sinal da voz, podendo diminuir a qualidade da voz
(digitalizada) ou atrasar a comunicação. Por outro lado, alguns codecs têm um
efeito corrector sobre os problemas de transmissão, nomeadamente, minimizando o
impacto da perda de pacotes. Têm, no entanto, o inconveniente de necessitarem
de mais processamento computacional.
Fig 5. Codificadores e respectivos MOS (Mean Opinion
Score) [7]
A
recomendação H.323 define os requisitos para sistemas de comunicação
multimédia, nos quais o transporte da informação é feito numa rede de pacotes
que não garante QoS. H.323 estabelece:
Ø Algoritmos
de codificação que devem ser implementados de forma a garantir compatibilidade
Ø Sinalização
Ø Interoperabilidade
com outros terminais de voz, como telefonia convencional, ISDN, voz sobre ATM e
outros, permitindo assim a construção de “gateways”.
A
arquitectura H.323 consiste em quatro elementos principais: terminais,
“gateways”, “gatekeepers” e Unidades de Controle de Multiponto (MCU), além de
procedimentos que definem como estes componentes se comunicam.
Terminais
são entidades que possibilitam a comunicação bidireccional em tempo real de voz
(obrigatória), vídeo ou dados (opcional), com outra entidade H.323, podendo
estar integrados em PCs ou implementados em dispositivos isolados.
O
“gateway” é um dispositivo de adaptação utilizado para permitir a comunicação
entre terminais H.323 e terminais não H.323. A principal função do “gateway” é
a tradução entre formatos de transmissão, procedimentos de comunicação e
formatos de áudio, vídeo e dados. O “gateway” também executa (em conjunto com o
“gatekeeper”) funções de estabelecimento e desconexão de chamadas do lado da
rede local e da RTPC. Estas funções de controle podem ser executadas
directamente entre Terminais e “gateways” H.323, ou podem ser delegadas para um
outro dispositivo, cuja única responsabilidade é a administração dos serviços
de controle da chamada no sistema VoIP, denominado “gatekeeper”. O “gatekeeper”
não é obrigatório no sistema H.323, mas sua utilização é comum em sistemas
práticos.
De
acordo com a documentação da Cisco [8], as principais
funções do “gatekeeper” são:
Ø Tradução
de endereços
Ø Controlo
de admissão
Ø Controlo
de largura de banda
Ø Sinalização
de chamada.
A H.323
especifica que os pacotes de voz sejam encapsulados em RTP e transportados em
UDP. Para gerir a qualidade de comunicação de voz na rede, utiliza-se o
protocolo RTPC.
Fig 6. Pilha de
Protocolos[13]
O SIP é
um protocolo, assim como o H.323, utilizado para estabelecer, modificar e
terminar sessões multimédia, como chamadas telefónicas via Internet.
De
acordo com o artigo H.323 versus SIP, da empresa Packetizer [9],
o protocolo SIP é mais simples e eficiente do que o H.323. O SIP é baseado em
texto e precisa da transição de 4 pacotes para a realização de uma chamada
enquanto o H.323 é baseado em codificação binária e precisa de 12 pacotes. O
H.323 é um bom protocolo mas perde claramente para o SIP em voz sobre IP devido
à sua complexidade.
No SIP
detalhes de uma sessão, como o tipo de serviço e o codificador são
transportados no corpo da mensagem SIP. As mensagens SIP podem ser enviadas
tanto pelo TCP, quanto pelo UDP.
Como a
transmissão de voz sobre IP usa o UDP como protocolo de transporte, os pacotes
podem tomar caminhos diferentes na rede, resultando em diferentes tempos de
propagação. Desta forma é possível que um pacote transmitido posteriormente, chegue
ao destino primeiro que o seu antecessor. Esse é apenas um dos problemas que o
RTP se propõe a contornar. O RTP tem um serviço de entrega end-to-end, para
dados com características de tempo real, tais como áudio e vídeo interactivos (RFC 1889). Suporta transferência
de dados para múltiplos destinos, usando distribuição multicast. Inclui os
seguintes serviços:
Ø Identificação
do tipo de payload
Ø Numeração
de sequência
Ø Indicação
do tempo de amostragem (timestamp)
Ø Monitorização
de entrega
Não
implementa as funcionalidades de entrega em prazo máximo, garantia de QoS e
garantia de entrega.
De
acordo com o RFC 3550 [10], o RTCP é baseado na transmissão
periódica de pacotes de controlo por todos os participantes de uma sessão, a
fim de monitorizar a qualidade de serviço e transportar informações destes
participantes. Possui como funções básicas o retorno sobre a congestionamento e
fluxo dos dados e o controlo da taxa de transmissão dos pacotes, para o caso de
muitos participantes.
Os
serviços de distribuição de conteúdo televisivo sobre a Internet (ao vivo e “on
demand”) têm emergido com a disseminação das redes de acesso de banda larga. Várias
iniciativas comerciais de IPTV têm surgido, impulsionadas pelo aparecimento de
redes convergentes que suportam diversos serviços com uma qualidade assegurada.
O IPTV comercial pode basear-se em endereços IP privados, possuindo por isso
abrangência limitada, de acordo com o alcance da rede privada. A transmissão é
efectuada em multicast. Este serviço tem como objectivo oferecer ao cliente
qualidade televisiva semelhante à prestada pela TV convencional. Por outro
lado, existem várias iniciativas que propõem um serviço de alcance global,
utilizando para isso a infraestrutura da Internet. A ideia básica é utilizar os
já existentes recursos dos clientes, de modo a formar um ambiente cooperativo
para distribuição de TV. O grande desafio do IPTV cooperativo é garantir a
qualidade de serviço e promover mecanismos de incentivo para a cooperação.
O
serviço de TV por assinatura através de redes IP (IPTV), admite novas
funcionalidades como Personal Video
Recorder (PVR), Video over Demand
(VoD), Video Podcasting, interactividade, comércio televisivo
(t-commerce), governo televisivo
(t-government), ensino televisivo (t-learning),
acesso ao sistema bancário
(t-banking), entre outras.
Através de um dispositivo
denominado set-top-box, é possível
aceder a todas estas funcionalidades.
Um dos grandes desafios do
IPTV reside no aumento do débito do acesso de banda larga. No início da banda
larga os débitos eram razoáveis quando superavam os 256 Kbps.
Para a transmissão de vídeo em
tempo real os débitos aceitáveis são:
|
MPEG2 |
MPEG4 |
SDTV - Standard TV |
1 a 5 Mbps |
3 Mbps |
HDTV - High Definition TV |
4 a 13 Mbps |
9 Mbps |
A
figura seguinte apresenta a arquitectura do IPTV:
Fig 7. Arquitectura do IPTV [11]
Podemos
notar a presença de três espaços que interoperam entre si para garantirem o
funcionamento do IPTV. O lado esquerdo da imagem é da responsabilidade do
operador, a rede de transporte é representada pela “nuvem” do IP/MPLS, do lado
da rede de acesso é de notar a resença do DSLAM, que sofreu algumas alterações
para fornecer este serviço.
Para
aumentar o débito na rede do cliente, ao operadoras apostam na aproximção do
DSLAM da residência do cliente, na utilização da tecnologia xDSL já existente e
aproximar fibra óptica do cliente (Fiber to the node).
Várias
operadoras europeias apresentaram soluções de Triple-Play. Na Itália,
praticamente não existe operadora de TV a cabo, a Fastweb, operada pela
e.Biscom, encontrou um mercado sem competição para a distribuição de vídeos
através de IPTV, acesso a Internet e VoIP, sendo a primeira operadora a oferecer
o serviço Triple-Play.
Em
Milão, a maior cidade italiana, a tecnologia FTTH (Fiber To The Home) está
disponível em quase todas as residências, o que favorece a oferta de inúmeros
serviços, incluindo a oferta de Triple-Play. No caso da operadora Fastweb, a
ligação telefónica entre clientes é gratuita e, para as residências atendidas
por FTTH, a ligação à Internet é disponibilizada através de acesso de 10 Mbps.
A
transmissão de sinais das operadoras de TV consome 4 Mbps e encontram-se
disponíveis operadoras locais (RAI, Mediaset, MTV, La7, etc), operadoras
internacionais (Bloomberg, BBCWorld, Disney, CNN, Carton Network, etc) e ainda
existem opções de canais por assinatura (Cinema Sky, Sport Sky, etc).
Em
operação desde dezembro de 2003, a Free actua apenas em Paris e Lion e
oferece o serviço de triple play com VoIP, ligação à Internet de
2 Mbps e IPTV baseado em MPEG-2 e débito de 3,5 Mbps.
A
operadora MaLigne, uma subsidiária da France Telecom, oferece IPTV baseado em MPEG-2
e MPEG-2 TS (Transport Stream) e deve oferecer, em breve, codificação com H.264
(AVC) para solicitações de VoD. Uma das vantagens do protocolo H.264 sobre o
protocolo MPEG-2 é a maior capacidade de compressão, atingindo uma taxa de 2:1
em vídeos com a mesma qualidade. Além disso, a implementação do protocolo H.264
possibilita a transmissão de vídeos em HDTV.
Em
Portugal, já existem várias operadores que pretendem oferecer o serviço
Triple-Play. A Portugal Telecom oferece, a partir do dia 30 de Maio de 2007 uma
solução de triple play, onde o serviço de IPTV é composto por distribuição de
canais TV (broadcast TV), distribuição de VOD (Video on Demand) e pay per view
(unicast TV) e outros serviços que permitem interacção com e entre clientes
(interactive TV). Numa fase inicial serão disponibilizados 8 Mbps, 3 Mbps para
cada televisor (limitado a duas TV’s) e o restante para o VoIP e transmissão de
dados. Se as TV’s não estiverem ligadas todo o débito é oferecido às
comunicações de dados via Internet e ao serviço VoIP. Numa fase posterior, a PT
pretende oferecer débitos de 40 Mbps.
Para codificações MPEG-2 a
taxa de transmissão necessária para obter uma qualidade aceitável situa-se
entre os 3 e os 5 Mbps, como foi dito anteriormente, para qualidade SDTV. Esta
taxa aplica-se à recepção de um único canal, ou seja apenas pode servir uma
televisão, no caso do IPTV.
A solução para a redução da
banda necessária à codificação de um programa televisivo pode estar nos
protocolos H.264/AVC e VC-1.
Segundo Jeremiah Golston e
Ajit Rao [12], Os codecs H.264/AVC e VC-1 representam a
tecnologia de terceira geração de compressão de vídeo. O H.264/AVC atinge cerca
de 2x a compressão face a sistemas de MPEG-2 e MPEG-4. Através de testes
formais (85 test-cases) constatou-se que o H.264 oferece uma eficiência de
codificação de 1,5 vezes mais em 78% dos testes, com 77% desses a mostrarem
melhoramentos de 2 vezes ou mais.
O H.264 apresenta novas
funcionalidades face ao MPEG-2 e MPEG-4 que permitem obter estes números. Estas
funcionalidades são:
Ø Aumento das “ferramentas” de predição
entre as tramas:
ü É possível ter
até 32 tramas B, ao contrário das soluções anteriores, em que no máximo se
usavam uma ou duas. Esta ferramenta permite um melhor aproveitamento dos bits
disponíveis, e consequentemente obtenção de melhor qualidade.
ü Blocos dinâmicos
(VBSMC) com tamanhos que podem ir desde os 4x4 até aos 16x16, operando de uma
forma compensatória.
ü Precisão de
um-quarto-de-pixel, ao contrário dos codecs anteriores que só permitiam
precisões de meio-pixel. Útil para a compensação do movimento.
ü Predições
ponderadas, que permitem que os codificadores especifiquem escalas e offsets
quando fazem compensação de movimento. Útil para a performance em situações de
transições de imagens (fade-to-black, fade-in e cross-fade).
Ø Predições
espaciais desde a fronteira dos blocos vizinhos, para codificações intra, em
oposição ao “DC”, a única predição existente no MPEG-2 parte 2 e a predição de
coeficientes transformados existente no H.263+ e no MPEG-4 Parte 2.
Ø Novas
ferramentas de codificação sem perdas, de macroblocos.
Ø Novas
ferramentas de entrelaçamento.
Para além de todas estas
ferramentas, o H.264 também apresenta uma nova solução de coeficientes,
semelhante aos conhecidos DCT, que permitem contornar o problema da função
transcendente que calcula a DCT, apresentando valores exactos derivados das
funções inversas realizadas para cada coeficiente. A quantetização também é
feita de uma forma diferente, mais eficiente, assim como as técnicas de
entropia, entre outras novas funcionalidades apresentadas por este codec.
A eficiência alcançada pelo
H.264 cria novas oportunidades de negócio, como por exemplo qualidade VHS a 600
Kbps, o que pode permitir VoD em linhas ADSL. Um trade-off do uso destes codecs
está relacionado com o custo da implementação em tempo real da codificação e
descodificação. A solução aqui é complicar o codificador, e simplificar os descodificadores,
para reduzir os custos de cada set-top-box.
Na Austrália o H.264 é já usado para a disponibilização do IPTV.
A
capacidade de um dispositivo interagir ou permitir interacção com o seu
utilizador é chamada interactividade. A existência de interactividade pressupõe
a existência de um objecto “inteligente” que estabeleça a ligação entre o
cliente e a estação. Neste contexto televisivo, é possível classificar o
conceito de interactividade em três níveis[13]:
Ø Interactividade com o conjunto
televisivo:
ü Uso de
controle remoto, permitindo a troca de canais e o avanço, retrocesso e pausa de
imagens num player de vídeo. Neste nível o telespectador não pode alterar o conteúdo,
apenas a forma como o mesmo é visto.
Ø Interactividade com o conteúdo do
programa da televisão
ü A
interactividade é plena. O telespectador pode controlar o conteúdo do programa
que está a assistir e a programação futura.
Ø Interactividade com o conteúdo
televisivo
ü Contém
as mesmas características que o nível anterior e ainda funcionalidades que
permitem obter informações a qualquer momento sobre condições climatéricas,
desporto, programação, notícias das emissoras. Permite ainda efectuar compras,
etc.
As
emissoras que distribuem o sinal através da rede cablada podem usar este acesso
para disponibilizar o canal de interactividade, apesar de ser necessário
adicionar algum equipamento no domicílio do cliente.
O
modelo de distribuição de sinais de vídeo através de IPTV fornece,
automaticamente, a infraestrutura necessária ao canal de interactividade
através do acesso em banda larga.
Fig 8. Seleção de cenas e ângulos [13]
5. TRANSMISSÃO DE DADOS NA INTERNET
O Triple-Play também oferece
Internet de banda larga, serviço normalmente já oferecido por todos os ISPs que
oferecem Triple-Play. Os débitos dedicados aos dados (internet) variam consoante
as redes de acesso (fibra, cobre, cabo coaxial, FTTN, FTTB, FTTH), as
tecnologias utilizadas (ADSL, ADSL2, VDSL, ...) e as set-top-box ligadas (uma por cada televisão) pois cada uma usa no
mínimo 3Mbps. Logo no caso do Triple-Play da PT, que na primeira fase oferece
8Mbps no total, se o cliente tiver duas set-top-box ligadas, ficará com apenas
2Mbps para internet, se desligar uma set-top-box já terá 5Mbps, e se desligar
as duas o débito de 8 Mbps é todo consumido para o uso da Internet.
O débito para acesso à
Internet vai aumentar bastante (40Mbps) num espaço de 2 anos qualquer que seja
a operadora.
Actualmente,
uma parcela significativa das redes mundiais oferece serviços independentes, de
suporte a voz, dados e vídeo de forma isolada. A tendência mundial para os
sistemas de comunicação é a convergência destas redes numa única rede baseada
no protocolo IP. As redes convergentes surgem como uma excelente alternativa,
agregando o tráfego de voz, dados e vídeo através de redes com grande largura
de banda e proporcionando às operadoras de telecomunicações a redução dos
custos, o aumento da produtividade e a oferta de novos serviços.
O
impacto das redes convergentes apresenta diferentes significados de acordo com
o público alvo a ser alcançado. Para os assinantes, as redes convergentes podem
proporcionar a junção dos equipamentos de multimédia, tais como televisão,
telefone e computador num único dispositivo com capacidade de disponibilizar
acesso à Internet, comunicação por voz e apresentação de vídeos e de canais
televisivos. Para os tecnocratas, as redes convergentes apresentam-se como um
desafio na busca por uma solução unificada com capacidade suficiente para
transportar com qualidade todos os serviços multimédia. Empresas de telecomunicações
com infraestrutura para distribuição de conteúdo poderiam oferecer os seus
serviços a mais de uma produtora de conteúdo, permitindo a partilha dos
recursos, reduzindo os custos e aumentando a capilaridade.
O maior
desafio talvez seja a complexidade de se operar, monitorizar e gerir uma rede
best effort, quando a maioria dos serviços oferecidos requer QoS.
Existe,
ainda, a necessidade de garantia de acordo de nível de serviço eficaz, com
suporte a diferentes níveis de QoS e largura de banda por assinante, que surge
em função de um novo modelo de negócio, com a oferta de serviços agregados ao
invés de simplesmente disponibilizar a infra-estrutura. A necessidade de
garantia de SLA ultrapassa a relação tradicional entre o ISP e o assinante, já
que neste novo modelo de negócios, baseado em redes convergentes, há
necessidade de estabelecer e garantir SLAs entre ISPs de conteúdo diferentes e,
provavelmente, entre redes autónomas.
Actualmente,
o fornecimento deste tipo de serviço conta com algumas limitações. Uma delas, é
que a maioria dos serviços de TV sobre IP são oferecidos sobre um backbone
proprietário com alcance restrito. As arquitecturas baseadas em P2P procuram
solucionar o problema de escalabilidade, onde a meta é oferecer um serviço de alcance
global utilizando a infraestrutura da Internet. Estas arquiteturas oferecem
benefícios como balanceamento de carga do sistema entre todos os participantes
do grupo multicast.
O
Triple-Play tem vindo a crescer como aposta, a nível mundial, permitindo que
diversas operadoras, que já possuem a tecnologia suficiente, especifiquem os
modelos de negócio necessários para oferecer este serviço a um número vasto de
clientes.
[1]
Eusébio Francisco, “Mobilidade e segurança na rede
fixa”, PT comunicações, 3 de Maio de 2006, p. 4 http://www.dei.estg.ipleiria.pt/eventos/crsc2006/apresentacoes/CRSC2006_PTComunicacoes.pdf
[2]
NEC website, Network overview Triple play service
http://www.nec-mobilesolutions.com/infrastructures/products/optical/overview_01.html
[3]
NEC Portugal website, “NEC Portugal apresenta solução
Triple-play”, 9 de Fevereiro de 2006
http://www.necportugal.pt/index.php?object=2216&article=5048§ion=467
[4]
PT comunicações, Planeamento de Redes de
Telecomunicações, suporte ao 3Play
https://dspace.ist.utl.pt/bitstream/2295/113898/1/Slides_11_05_27(Planeamento3P).pdf
[5]
Marcio Patusco Lana Lobo, Implementando uma NGN Visão
Embratel, RNP
http://www.rnp.br/_arquivo/wrnp2/2004/marcio_patusco.pdf
[6]
José Mauricio dos Santos Pinheiro, 19 de Outubro de 2006, Tutoriais, “Redes
de telefonia IP”
http://www.metrored.com.br/tutoriais/tutorial_redes_telefonia_ip_01.php
[7]
Biblioteca on-line, “Boletins de telfonia IP”
http://www.multirede.com.br/pagina.php?codigo=211
[8]
Cisco, Understanding H.323 Gatekeepers, Document
ID: 5244, 20 de Julho de 2006
http://www.cisco.com/warp/public/788/voip/understand-gatekeepers.html
[9]
Packetizer, H.323 versus SIP: A Comparison
http://www.packetizer.com/voip/h323_vs_sip
[10]
Network Working Group, Julho de 2003, “RTP: A Transport Protocol for
Real-Time Applications”
http://www.rfc-editor.org/rfc/rfc3550.txt
[11]
António Varanda, 8 de Maio de 2007, “Acesso de banda
Larga, Uma perspective de operador”,
https://dspace.ist.utl.pt/bitstream/2295/113135/1/Palestra_AcessoBanda%20Larga.pdf
[12]
\Jeremiah Golston and Dr. Ajit Rao, “Video
codecs tutorial: Trade-offs with H.264, VC-1 and other advanced codecs”,
EETimes latest news
http:[11][11]//www.eetimes.com/news/latest/showArticle.jhtml?articleID=184417335&pgno=1
[13]
Célio Albuquerque, Tiago Proença e
Etienne Oliveira, TvoIP: TV sobre IP, Arquiteturas para transmissão em larga
escala, secção 3.1.4 - Interatividade
http://www.ic.uff.br/~celio/papers/minicurso-sbrc06.pdf
Mariana Silva
Natural de
Lisboa, Portugal. Nascida a 15-06-1984.
Estudante do 4º
ano de Engenharia de Redes de Comunicação e Informação (LERCI) no Instituto
Superior Técnico, Pólo do Taguspark em Porto Salvo, Oeiras, Portugal
André Machado
Natural de Ponta
Delgada, Açores, Portugal. Nascido a 25-05-1985.
Estudante do 4º
ano de Engenharia de Redes de Comunicação e Informação (LERCI) no Instituto
Superior Técnico, Pólo do Taguspark em Porto Salvo, Oeiras, Portugal