O primeiro sistema CCTV foi criado na Alemanha, pela Siemens AG, com o objectivo de observar o lançamento de rockets. Embora as tecnologias de cada componente mudem muito frequentemente, a estrutura destes sistemas permaneceu relativamente constante, sendo introduzidas nesta secção as suas componentes essenciais.
2.1. Câmaras
A função essencial de uma câmara é converter um ambiente visível, capturado pela sua lente, num sinal eléctrico que possa ser transmitido para um sistema no qual se possa visualizar uma imagem desse ambiente.
A escolha da câmara ideal para operar num determinado ambiente constitui muitas vezes um processo complexo, pois envolve decisões que podem ser condicionadas por vários parâmetros, que variam em função do objectivo visado. A selecção de uma câmara, para além depender do ambiente em que esta vai actuar e da qualidade de imagem desejada, é habitualmente, condicionada também pelo custo global do sistema. As dimensões do sistema e o consumo de energia são ainda factores que, entre outros, podem condicionar o processo de decisão.
Consoante o tipo de cobertura do ambiente que se pretende fazer, assim há que optar por um dos seguintes tipos de câmaras: as fixas ou as do tipo Pan Tili Zoom (PTZ). Nas figuras 1 e 2 mostram-se exemplos de uma câmara fixa e de uma PTZ, respectivamente.
Contrariamente às câmaras fixas, as PTZ podem ser movimentadas remotamente, em qualquer das direcções (esquerda, direita, cima e baixo) e possuem, na maior parte das vezes, a capacidade de fazer Zoom da imagem captada.
Figura 1 – Exemplo de uma câmara fixa
Figura 2 – Exemplo de uma câmara PTZ
Frequentemente, as câmaras PTZ estão protegidas no interior de uma redoma de plexiglass preta. Este tipo de encapsulamento apresenta a vantagem de dificultar que se perceba qual é a direcção apontada pela câmara e, por outro lado, possibilita a expansão do sistema com câmaras falsas, o que pode melhorar o aspecto estético do sistema e aumentar a dificuldade de identificação da câmara operacional.
2.2. Lente
As lentes têm um papel importante no desenho de sistemas CCTV. A sua função principal é recolher a luz reflectida de uma cena e retirar uma imagem clara. Tipicamente, quanto mais luz passa através da lente, melhor é a qualidade da imagem. Assim sendo, a escolha da lente é especialmente crítica, pois influencia directamente o tamanho, a forma e o detalhe da imagem a ser apresentada. Existe ainda uma série de factores, como a depth of field, o FOV (field of view), a iluminação e o formato, que afectam a qualidade final das imagens produzidas pela câmara.
2.2.1 FOV (Field of View)
O FOV é essencialmente o tamanho da imagem (altura V e largura H) que é recolhido por uma determinada lente a uma certa distância L (ver Figura 3). As lentes das câmaras podem ser divididas em dois tipos básicos: lentes de distância focal fixa e lentes de distância focal variável (Zoom). Caso sejam necessárias imagens com ângulos de visão diferentes, as lentes com distância focal variável são a melhor escolha.
Figura 3 – Esquema ilustrativo do FOV
2.2.2 Depth of field
Outro parâmetro a considerar relativamente às lentes é a depth of field, que consiste na área de foco antes e depois de um determinado objecto. Isto significa que quando se foca um objecto de forma precisa, existe uma certa distância antes e depois desse objecto que também se vai encontrar focada.
2.3. Condições de Iluminação
As condições de iluminação são um factor condicionante na escolha de um sistema de videovigilância. A qualidade de imagem tem uma relação directa com as condições de iluminação no sítio que se deseja monitorizar.
Dependendo do local em questão, podem existir fontes de luz naturais ou artificiais, sendo necessário determinar o nível mínimo de luz com o qual o sistema vai ter de trabalhar. Este nível mínimo de luz é uma referência importante, pois existem outros elementos que dele dependem (por exemplo a cor da imagem).
2.4. Cor da imagem
Embora a utilização de câmaras a cores esteja a aumentar, existem situações em que as câmaras a preto e branco têm vantagens. Este tipo de câmaras consegue capturar imagens de boa qualidade em situações de muito pouca luz, sendo importante notar que, tanto nas câmaras a cores como a preto e branco, o preço cresce com o aumento desta capacidade. Assim, antes de se comprar um sistema de videovigilância, é necessário fazer uma comparação entre os encargos resultantes da melhoria de iluminação no local em que se pretende implementar o sistema e os custos inerentes à aquisição de câmaras com esta capacidade.
As câmaras a cores, por sua vez, geram imagens mais ricas e naturais do que as suas homólogas a preto e branco (Figura 5). Esta naturalidade permite detectar melhor certos eventos, permitindo ao operador analisar com um maior detalhe a realidade que as imagens apresentam. A título de exemplo, na eventualidade de existir um incidente que envolva um carro vermelho (ver Figura 4), é fácil identificar a sua cor utilizando uma câmara deste género. Tal já não acontece no caso de se utilizar uma câmara a preto e branco. Além disso, imagem de uma câmara a cores consegue manter o interesse do operador por um maior período de tempo.
Figura 4 – Exemplo de uma imagem gravada numa câmara a cores.
Figura 5 – Imagem da ocorrência de um delito , gravado numa câmara a preto e branco
2.5. Meios de Transmissão de vídeo
O papel desempenhado pelo meio de transmissão consiste em levar o sinal de vídeo da câmara até ao monitor onde se vai visualizar a área monitorizada; eventualmente, poderá ainda ser usado para transmitir informação em sentido contrário (por exemplo, comandos remotos para a câmara).
Existe hoje em dia, uma série de meios de transmissão diferentes: cabo coaxial, fibra óptica, linha telefónica e rádio frequência (ex: microondas). A escolha do meio de transmissão depende de factores como a distância, o ambiente, o custo e até o próprio desenho da estrutura em que se pretende instalar o sistema. Todos os meios de transmissão apresentam perdas e estão sujeitos a interferências. No desenho de uma rede, um dos objectivos importantes é minimizar o impacto destes efeitos.
2.6. Interface do Sistema
Um aspecto importante a considerar no desenvolvimento de sistemas, é a interface com o operador. Por um lado, é importante que a utilização do sistema seja intuitiva e, por outro, deve-se viabilizar a rápida e eficiente monitorização de todas as câmaras. É ainda relevante que a interface gráfica possua um aspecto apelativo para que não canse mas também não distraia o operador da sua função.
Tipicamente, a interface que é fornecida ao operador deve contemplar a possibilidade de se visualizarem as diversas câmaras disponíveis, tanto em modo sequencial como em subconjuntos das câmaras existentes, podendo estes ser revezados automaticamente. Em sistemas em que existam câmaras PTZ, a interface deverá disponibilizar os comandos para o controlo remoto. Na Figura 6 apresenta-se um bom exemplo de um interface para o operador.
Figura 6 – Exemplo de uma Interface gráfica
2.7. Armazenamento
O problema do armazenamento é uma questão delicada, neste tipo de sistemas. O vídeo é na sua essência um tipo de conteúdo com requisitos de capacidade, processamento e de tempo elevados.
Existe toda uma série de motivos que justificam o armazenamento dos dados capturados pelas câmaras de videovigilância. Desde logo, para utilização própria em termos de segurança, já que poderá haver interesse em guardar registos dos acessos e das acções das pessoas que se encontram nos locais vigiados. Depois, porque esses registos poderão vir a ser solicitados pelas autoridades, caso venha a ser cometido algum tipo de delito nas áreas circundantes. Em terceiro lugar, podemos necessitar de ter os dados armazenados para fins estatísticos (por exemplo, estatísticas de afluência a um determinado serviço).
O problema surge quando se tem de decidir durante quanto tempo os dados têm de ser armazenados. Se usarmos apenas pequenas janelas de tempo, perdemos a capacidade de investigar ocorrências mais antigas e de retirar padrões e estatísticas. No outro extremo (longos períodos de armazenamento), é necessária uma grande capacidade de armazenamento, o que aumenta o TCO (Total Cost of Ownership) do sistema.
Este problema pode ainda ser agravado pelo facto de existirem obrigações em termos do período em que se é obrigado a reter os dados, o que significa que o parâmetro do tempo de armazenamento acaba por não ser uma decisão unilateral de quem implementa o sistema, mas sim influenciada ou imposta pela legislação em vigor.