Situação em Portugal
O projecto de implementação da TDT em Portugal já sofreu uma experiência falhada em 2001, pelo que foi deixado de lado e só agora arranca de uma forma estudada e estruturada, o que coloca Portugal como um dos países mais atrasados da União Europeia na implementação da TDT. Neste momento é preciso correr contra o tempo, pois a Comissão Europeia prevê para 2012 o fim das transmissões analógicas, o que representa um grande desafio. Outro desafio que se coloca é cumprir a determinação do Governo, que vai exigir aos vencedores do concurso público que consigam cobrir com o sinal digital 99% da população na TV aberta ao final de três anos. No caso da TDT paga a exigência é de 76% de cobertura.
Portugal lançou um concurso público para a TDT, em 17 de Agosto de 2001 que resultou na atribuição de uma licença ao consórcio PTDP (Plataforma de Televisão Digital Portuguesa). A plataforma não chegou sequer a começar as emissões e a licença acabou, depois de algumas prorrogações, de ser revogada. Os impulsionadores da TDT acabaram por admitir que nesse momento o mercado português não podia absorver outra oferta como a que existe por cabo, satélite ou Internet. As características especiais do mercado televisivo português tornaram muito complicada a implementação desta tecnologia.
O concurso foi cancelado em 25 de Março de 2003 por dificuldades tecnológicas e comerciais para a implementação da TDT.
A falta de um modelo de negócio claro que preencha os requisitos desse processo de digitalização faz com que ainda se estejam a estudar as diferentes opções num país que entre outros aspectos a generalização da televisão por cabo converte em minorias as outras possibilidades de transmissão do sinal de televisão como poderia ser o satélite e Internet.
No início de 2008, no dia 26 de Fevereiro foi aberto um novo concurso para a TDT, onde se definiram as novas regras de candidatura aos multiplexers utilizados na distribuição do sinal da TDT.
Aspectos Tecnológicos
O sistema escolhido para distribuição do sinal digital foi o DVB-T. Esta tecnologia apresenta uma panóplia de vantagens competitivas face aos sistemas televisivos analógicos, dada a sua grande versatilidade a nível da cadeia de transmissão do sinal. As principais características incluem universalidade, permitindo a implementação do serviço em qualquer zona geográfica; inter-operacionalidade, possibilitando o funcionamento conjunto de equipamentos provenientes de diferentes fabricantes e serviços associados; transparência, tolerando a transmissão de quaisquer tipos de programas audiovisuais e de dados, assim como a fácil transferência de sinais entre os diferentes meios de distribuição, designadamente satélite, cabo e terrestre.
Figura 4 – Exemplo de Set-top-box
A recepção do sinal DVB-T, é possível de duas formas, a primeira através da aquisição de um set-top-box (Figura 4) – descodificador que permite receber a televisão digital durante o período de simulcast (difusão simultânea dos sinais analógico e digital). A segunda, mais dispendiosa do que a primeira, através da aquisição de um televisor digital que dispensa a necessidade de uma set-top-box.
O multiplexer é um dispositivo que combina múltiplos canais num único fluxo de dados. Um conjunto de frequências é agregada num multiplexer e posteriormente desagregadas pela set-top box digital ou televisor equipado com STB, que o consumidor tem de adquirir.
A TDT em Portugal utilizará 6 multiplexers (A, B, C, D, E e F) tendo por base redes de frequência única (Single Frequency Network - SFN). No Multiplexer A são transmitidos os canais de acesso livre que já possuem licença (RTP, 2:, SIC e TVI) e um quinto canal anunciado pelo governo mas a sua concessão ocorrerá somente em 2009. Os Multiplexers B a F são para pay TV. Os Multiplexers B e C são nacionais e os Multiplexers D, E, F são de âmbito parcial, com resguardo de 80Km até à fronteira (Figura 5), consequentemente parte da população ficará privada desses canais.
Um modelo de rede de frequência única, é caracterizado pelo sincronismo de todas as estações no mesmo canal de frequência. Por outro lado um modelo de redes de múltipla frequência (MFN) utiliza o modelo convencional, tal como adoptado nas redes de TV analógica, em que cada estação ocupa um canal de frequências.
Figura 5 – Cobertura dos Multiplexers D, E e F
As vantagens de uma rede SFN em relação a uma rede MFN residem essencialmente na economia de espectro que poderá ser muito significativa, para áreas geográficas significativamente extensas. As desvantagens residem na necessidade de perfeito sincronismo dos emissores da rede SFN e de um número mais elevado de estações.
Em Portugal foram definidos os seguintes parâmetros para a norma DVB-T:
· Portadora em modo 8k com 6817 sub-portadoras;
· Sub-portadoras com técnica de modulação 64-QAM;
· Intervalo de guarda igual a 1/4;
· Taxa de Código: 2/3;
· Banda UHF;
· Ocupação espectral 8MHz;
O uso de modulação 64-QAM nas sub-portadoras irá possibilitar débitos mais elevados, permitindo uma oferta mais diversificada, designadamente programas de alta definição, não sendo, no entanto, uma opção recomendável para recepção móvel.
O intervalo de guarda é ideal para uma rede de âmbito alargado, embora lhe esteja associada uma capacidade máxima que é inferior à disponibilizada no caso de uma rede de âmbito local (opção “1/32”), para a mesma taxa de código.
A taxa de código de 2/3 é suficiente para uma recepção portátil embora à custa de uma redução de capacidade máxima para o mesmo intervalo de guarda.
Concurso
O concurso à Televisão Digital Terrestre em Portugal foi dividido em “Concurso relativo ao Multiplexer A” lançado pela ANACOM e “Concurso relativo aos Multiplexers B, C, D, E e F” lançado pelo Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.
Não há restrições para concorrer ao Multiplexer A, no entanto nos Multiplexer B a F os direitos não podem ser atribuídos a uma entidade que detenha no mercado de TV por subscrição uma quota de mercado igual ou superior a 50%. Ou seja, a Zon Multimédia, antiga TV Cabo, que é a única empresa do mercado de televisão nacional que estava impedida de concorrer.
Um dos concorrentes à TDT é a Portugal Telecom que já possui a sua própria rede de distribuição de sinal televisivo (RTP, 2: e SIC) e que recentemente adquiriu a RETI (Rede de Emissoras de Televisão Independente) pertencente à TVI, ficando com a totalidade da rede de distribuição de sinal de televisão.
Findo o período de candidatura, a Portugal Telecom assumiu-se como a única concorrente ao Multiplexer A, que terá os canais de TV livre. Na TDT paga (Multiplexers B, C, D, E e F), além da Portugal Telecom, concorre a empresa sueca AirPlusTV.
No mercado português tal como na maioria dos mercados, a televisão hertziana terrestre é o único sistema que oferece uma cobertura superior a 90% da população e a recepção do sinal é gratuita, enquanto a televisão por cabo e satélite implica o pagamento de uma taxa de subscrição periódica. Actualmente o modelo de negócio
O modelo de negócio da Televisão Digital Terrestre está dividido em modelo gratuito e modelo pago. Se por um lado o modelo gratuito tem uma grande viabilidade de negócio, por outro lado o modelo de televisão pago não gera grande entusiasmo.
O modelo de Televisão paga através da TDT (Televisão Digital Terrestre) poderá não ser viável por diversos factores. Por um lado, cerca de três milhões de lares podem ter acesso a televisão por cabo ou satélite, chegando aos lugares mais recônditos do nosso país, tornando a TDT numa terceira opção que demorará a crescer no mercado. Outra razão é que qualquer das tecnologias disponíveis (cabo, fibra óptico, ADSL ou satélite) permitem uma oferta com maior número de canais do que a TDT permite. No entanto, a oferta paga que integra a TDT fará concorrência aos actuais modelos de venda de conteúdos, o que é benéfico para os consumidores.
Os exemplos vindos do Reino Unido, França e Espanha mostram que o caminho a seguir é a oferta de Televisão Digital Terrestre gratuita, na continuidade do modelo já usado na televisão analógica.
A decisão sobre os vencedores dos concursos só será conhecida no Verão, já que depois do concurso são necessários mais 40 dias para que seja elaborado o relatório final que vai dar a conhecer o vencedor do concurso da TDT paga, já para a decisão sobre o regime gratuito o prazo é de 60 dias úteis, no entanto apenas a PT concorreu ao modelo gratuito. Assim, e se não houver atrasos, a decisão será tomada em Julho ou Agosto.
Uma importante política de expansão por parte das empresas que concorreram à TDT em Portugal é o apoio para as set top box. A PT garante subsídios de 40 milhões de euros para a aquisição de set top box, dos quais 15 milhões são canalizados para o concurso ao multiplexer A e outros 25 milhões para o multiplexer B a F. Nos multiplexers B a F, a empresa Sueca Airplus TV propõe-se investir 20 milhões no apoio às set top box.
A proposta da Portugal Telecom traça metas ambiciosas prometendo cobrir o território nacional a 100% nos canais de sinal aberto (multiplexer A) e 85% nos canais de sinal pago (multiplexeres B a F), assim como, atingir a cobertura máxima antes do prazo, dentro de 12 meses no multiplexer A (modelo gratuito) e 18 meses nos multiplexers B a F (modelo pago).
Num futuro próximo espera-se que a TDT passe a ser transmitida segundo a norma DVB-T2 utilizando compressão de áudio e vídeo MPEG-4.