Arquitectura típica
Qualquer rede de televisão por satélite precisa de:
- Um centro de transmissão (broadcasting facility).
- Pelo menos um satélite para a sua retransmissão.
- Um mecanismo de recepção no lado do cliente
Centros de transmissão
Os centros de transmissão são responsáveis pela emissão do conteúdo para os satélites. Estes centros podem receber o conteúdo de duas formas:
- Por sinal (por uma rede cabeada, nomeadamente fibra óptica, ou por satélite).
- Pré-gravado.
Se o conteúdo é recebido por sinal, o centro de transmissão tem as funções de monitorização, ajuste, re-sincronização, processamento e transporte do sinal. Caso o conteúdo esteja pré-gravado, o centro é responsável pelo controlo de qualidade, clonagem e playback.
Para além da transmissão do conteúdo, esta entidade também é responsável por inserir data streams para proporcionar Electronic Program Guides aos clientes. Estas EPG normalmente têm os títulos dos programas, e os horários, sinopses, linguagens alternativas, etc.. destes.
O sinal digital é transportado pelo centro de transmissão via fibra óptica a débitos de até 270Mb/s, e reduzido a débitos de 1-10Mb/s pelo equipamento de processamento de sinal, responsável pela compressão do áudio e do vídeo. [1]
A maior parte destes sistemas utiliza o standard de compressão MPEG-2, mais sobre as normas mais relevantes no ponto 4. Este processamento do sinal fez possível a transmissão de televisão por satélite, reduzindo dramaticamente o investimento em satélites por exemplo, e aumentando o número de canais possíveis.
Uma vez tratado o conteúdo, o centro de transmissão é responsável por emiti-lo para os satélites de televisão, por um canal denominado uplink. Para esta emissão usam antenas parabólicas de entre nove a doze metros de diâmetro, pois a precisão e a força do sinal dependem do diâmetro da antena. De forma a transmitir os sinais pelo uplink, o sinal deve ser transmitido dentro de um intervalo de frequências concreto, para poder ser recebido pelos transponders RF dos satélites sintonizados para estas frequências. [2]
Satélites transmissores
Estes satélites estão normalmente numa órbita geoestacionária ou de Molniya[2]. Cada sinal recebido de um uplink é recebido por um RF transponder do repetidor dos satélites sintonizado para essa frequência. Este repetidor tem um conversor de frequências.
Para cada polarização existe um receptor front end que converte e amplifica o sinal recebido para a frequência de transmissão (ver Tabela 2) e o envia para os vários RF transponders. Estes transponders têm um transmissor Travelling Wave Tube (TWT) de 240W [6]. Os elementos funcionais primários do repetidor são mostrados na ilustração 2. O canal entre os transponders e as estações de recepção terrestres é denominado downlink.
A área coberta pelos satélites na Terra tem o nome de footprint, e esta pode ser moldada de forma a limitar a recepção do sinal. O uso de spotbeams permite moldar o footprint do satélite mas também permite ao satélite dar serviços diferentes em áreas de cobertura diferentes. [3]
Recepção no utilizador
A recepção no utilizador é feita com:
- Uma antena parabólica para receber o sinal wireless.
- Uma Set Top Box, para tratar o sinal recebido.
Antena parabólica
O diâmetro da antena é proporcional à energia utilizada na transmissão do sinal de rádio, razão pela qual bandas diferentes utilizam antenas de tamanho diferente (ver tabela 1).
Ao apontar a antena para o satélite, recebem-se vários feixes ao longo da parabólica que são concentrados no feed horn. Este componente tem a função de recolher e concentrar o sinal, para além de atenuar sinais indesejados, como transmissões de canais adjacentes. Uma vez recolhido o sinal, este concentra-o para o Low Noise Block (LNB).
O LNB serve para converter os sinais recebidos na banda de frequências relativamente alta em sinais similares numa frequência intermediaria (IF, ver tabela 3) muito inferior. Esta conversão é feita com a combinação do sinal recebido e uma frequência produzida por um oscilador local no LNB, que vai gerar dois sinais; um é a soma das frequências e o outro é a diferença. O sinal de soma de frequências é filtrado e o sinal de diferença de frequências é amplificado e transportado para o receptor. [4]
Esta frequência inferior permite que o sinal seja transportado por um cabo com uma atenuação muito inferior, para além do custo reduzido no material electrónico utilizado.
Set Top Box
A recepção do sinal de televisão via satélite culmina num dispositivo chamado Set Top Box (receiver na ilustração 3). Cabe a este receptor fazer a desmodulação do sinal electrónico, a desmultiplexagem do tipo de informação contida no sinal (áudio, vídeo e controlo), a decifra dos conteúdos caso seja necessário, a descompressão do conteúdo e a adaptação dos sinais à representação no formato de televisão local. O funcionamento da STB rege-se pela norma utilizada pelo fornecedor.
A STB escolhe a informação relevante ao sintonizar o canal que é desejado no Tuner. Depois, dependendo da norma utilizada (mais sobre as normas mais relevantes no ponto 4), o sinal recebido é desmodulado de forma a obter uma Transport Stream (TS) que contem o áudio, vídeo e outras informações que têm alguma relação com o programa de televisão escolhido.
O demultiplexer selecciona e decifra o áudio e vídeo para o programa sintonizado, usando as chaves de cifra fornecidas pela Conditional Access Sub System (CASS). Este conteúdo é entregue ao decoder que terá a função de descodificar a informação para o programa em concreto. Para além do conteúdo, a TS também transporta dois tipos de mensagens:
- EMM – Entertainment Management Service, que transporta uma lista dos serviços e canais que o utilizador pode consumir.
- ECM – Entitlement Control Message, que transporta uma control word que é utilizada pelo descrambler da STB para tornar o conteúdo inteligível.
O algoritmo de scrambling é standard, no entanto os algoritmos de cifra EMM/ECM não o são. Estes algoritmos estão presentes num módulo plug-in, e é possível utilizar vários de fabricantes diferentes para conseguir decifrar conteúdo de fornecedores diferentes.[5]
Uma vez descodificado o conteúdo, este está pronto para ser visualizado. A STB tem também a função de transformar o sinal digital em analógico (PAL,SECAM, NTSC), ou de o preparar para ser transportado por uma interface em concreto (HDMI, S-VIDEO).
[1] - SMPTE 259M Television-10-Bit 4:2:2 Component and 4fsc Composite Digital Signals—Serial Digital Interface (1997)
[2] - http://electronics.howstuffworks.com/satellite-tv2.htm
[3] - http://www.fcc.gov/cgb/../how_sats_work.html
[4] - http://en.wikipedia.org/wiki/Low-noise_block_converter
[5] - Digital Set Top Box – Open Architecture / Interoperability Issues