História da Telemedicina

 

 

A aplicação de tecnologias de comunicação ao exercício da medicina pode ser seguido desde o início do século XX.

Em 1906 Wilhelm Einthoven (prémio Nobel), inventor do electrocardiograma, iniciou experiências de consulta remota através da rede telefónica e descreve como realizar a transmissão por telefone de electrocardiogramas (ECG). Em 1910 na Inglaterra criou-se o primeiro estetoscópio eléctrico a funcionar por telefone. Durante a 1ª guerra mundial, no ano de 1916 e seguintes o rádio foi utilizado para permitir a comunicação entre médicos de estações costeiras ou na frente de batalhas, com hospitais de campanha ou navios em busca de apoio e informações logísticas.

Em 1948, transmitiu-se pela primeira vez imagens de radiologia através do telefone entre West Chester e Philadelphia. Nos anos 50 radiologistas do Hospital Jean-Talon em Montereal no Canada criaram a teleradiologia. Nos anos seguintes, verificou-se o aparecimento de vários projectos e de instituições pioneiras na tentativa de aplicar as tecnologias emergentes, à prestação dos cuidados de saúde:

-Centro Médico do Nebraska

Em 1955 o Instituto Psiquiátrico do Nebraska foi uma das primeiras instalações dos Estados Unidos a ter um circuito interno de televisão. Em 1964, um investimento do Instituto Nacional para Saúde Mental permitiu estabelecer uma ligação bidireccional entre o instituto Psiquiátrico e o Hospital Estatal de Norfolk, a 180 km de distância. A ligação era usada para educação, e para consultas entre especialistas e médicos de clínica geral. Em 1971 ligou-se o Centro Médico do Nebraska com a Administração do Omaha Veterans Hospital e instalações desta em outras duas cidades.

            -STARPAHC (Space Technology Applied to Rural Papago Advanced Health Care)

Este projecto proporcionou cuidado médico à reserva índia Papago no Arizona. Ocorreu de 1972 a 1975 e foi concebido pela NASA (National Aeronautics and Space Administration), posto em prática pela NASA e pela Lockheed, e implementado e avaliado pelas pessoas de Papago, pelo Serviço de Saúde Índio e pelo Departamento de Saúde, Educação e Bem-estar. Os seus objectivos eram proporcionar cuidados médicos aos astronautas no espaço e proporcionar cuidados médicos à Reserva de Papago. Esta ultima possível através de uma carrinha com dois paramédicos índios e equipada com uma variedade de instrumentos médicos, a carrinha estava ligada aos especialistas do hospital através de uma ligação de microondas bidireccional e transmissão de áudio.

-Hospital Geral de Massachusetts/Centro médico do Aeroporto Internacional Logan (Boston) 

Este centro foi criado em 1967 para proporcionar cuidados médicos quer aos trabalhadores do aeroporto quer aos viajantes. Os Médicos do Hospital prestavam cuidados médicos aos pacientes no centro médico utilizando uma ligação audiovisual bidireccional. O centro tinha enfermeiros 24 horas por dia que seleccionavam os doentes que necessitavam de tratamento.

-Alasca ATS-6 Demonstração Biomédica por satélite: 

Em 1971 foram escolhidos 26 locais no Alasca pela Biblioteca Nacional do Centro de Medicina para Comunicação Biomédica, para verificar o quanto o uso de vídeo por satélite melhoraria a qualidade do cuidado médico prestado no Alasca. Utilizou-se o ATS-1, o primeiro das séries de Satélites da NASA lançado em 1966, este satélite utilizou-se de 1971 a 1975. Em 4 locais foram instalados estações de satélite terrestres que permitiam a transmissão e a recepção de vídeo a preto e branco, num quinto local apenas era possível a recepção mas todos eles estavam equipados com ligações bidireccionais de áudio.

-Requisitos de Vídeo para telediagnósticos:

Em 1974 a NASA e a SCI Systems de Houston conduziram um estudo para determinar os requisitos mínimos necessários para realizar Telediagnósticos. A experiência foi conduzida com a ajuda de um sistema de simulação. A base do estudo foi uma cassete de alta qualidade contendo exames médicos realizados por uma enfermeira sob a direcção de um médico que a observava num circuito de televisão fechada. A cassete foi electronicamente degradada para simular sistemas com pouca qualidade de radiodifusão. Finalmente, a gravação degradada (por um processo estatístico aleatório) foi mostrada a um grande número de médicos que tentaram alcançar um diagnóstico correcto e visualmente reconhecer sinais físicos em cada paciente. Foram investigados seis sistemas de transmissão.

-Universidade Memorial de Newfoundland (MUN):

A MUN desde cedo foi um dos participantes do Programa Espacial do Canada. O Hermes satélite conjunto de Canada/U.S. proporcionou ao Canada a possibilidade de utilizar tecnologia de satélite em educação à distância e cuidado médico. Desde 1977, o Centro de Telemedicina da MUN trabalhou para desenvolver redes de áudio interactivas para programas educacionais e transmissão de dados médicos. O Sistema de teleconferência da MUN, uma rede que consistia em cinco ligações dedicados, começou a funcionar em 1977. A MUN foi activa em teleconferência internacional, em 1985 esteve envolvida no projecto do Satélite internacional (Intelsat). A MUN foi um exemplo do uso consciencioso e barato da tecnologia de telemedicina.

-O Norte-oeste Projeto de Telemedicina:

Este projecto iniciou-se em 1984 na Austrália para teste de uma rede de comunicações por satélite (the Q-network). Um dos objectivos do projecto era possibilitar cuidados médicos a pessoas em cinco cidades remotas do sul do Golfo de Carpentaria. A Q-network consistia em 20 estação terrestres com ligações bidireccionais e 20 apenas com recepção. Todos os locais foram equipados com teleconferência e fax. A avaliação do projecto mostrou que a tecnologia utilizada melhorou o cuidado médico prestado aos residentes nos locais abrangidos.

-O NASA SpaceBridge para Armenia/Ufa 

Em 1989 a NASA conduziu o primeiro programa internacional de telemedicina, ponte espacial para Armenia/Ufa. Em Dezembro de 1988 um grande terramoto atingiu a República Soviética da Arménia. Os Estados Unidos ofereceram ajuda à União Soviética para consulta médica no local do desastre. Com o apoio e supervisão de um grupo de trabalho conjunto (EUA/U.S.S.R.) em biologia espacial, realizaram-se consultas de telemedicina utilizando vídeo, voz e fac-simile entre o centro médico em Yerevan, Arménia e quatro centros médicos nos EUA. O programa foi estendido a Moscovo e Ufa, Rússia para ajudar as vítimas de um acidente ferroviário terrível. Este projecto demonstrou que consultas médicas poderiam ser realizadas através de uma rede de satélites, ultrapassando diferenças políticas, culturais sociais e económicas.

            Os projectos acima referidos não foram os únicos mas foram aqueles que mais contribuíram para o desenvolvimento inicial da Telemedicina e que guiaram toda a disciplina para novas e mais completas aplicações.

Na Europa, os primeiros passos da telemedicina ocorreram nos anos 70, mas só nos fins dos anos 80, é que houve um investimento efectivo na área da telemedicina por parte da Comunidade Europeia através do programa da Comissão Europeia para aplicações telemáticas, conhecido como AIM (Advanced Informatics in Medicine). Entre 1989 e 1990 a fase exploratória do programa foi levada a cabo com 42 projectos entre eles: ADAM (Advanced Architecture in Medicine), AEMI (Advanced Environment for Medical Image Interpretation) e KISS (Knowledge-based Interactive Sygnal Monitoring System), só para dar alguns exemplos. A principal “vitória” desta fase do programa foi a de ter criado uma comunidade AIM de cerca de 3000 pessoas, profissionais de saúde, investidores, aos quais interessava definir objectivos e especificações. De 1991 a 1994 o programa AIM continuou com o programa “Telematics Applications in Areas of General Interest”[1]. Nesta fase do projecto houve um investimento substancialmente superior ao da primeira fase, a ideia era construir protótipos e realizar aplicações piloto, testa-los e testar igualmente a aceitação destes por parte dos utilizadores. Dois dos mais relevantes projectos em telemedicina nesta fase (AIM main fase) foram: o FEST (Framework for European Services in Telemedicine) e o EPIC (European Prototype for Integrated Care). No projecto FEST, desenvolveu-se uma aplicação de telemedicina, para possibilitar uma tomada de decisão cooperativa entre vários hospitais regionais e um centro especializado. O projecto EPIC consistiu no desenvolvimento de um sistema de telecuidados para idosos e pessoas incapacitadas.

Entre 1995 e 1998 com a fase de desenvolvimento do “The Framework Programme IV” a chegar ao fim, verificou-se um reforço do investimento da União Europeia nas tecnologias de informação e de comunicação aplicadas ao sector médico. Este programa identificou as necessidades dos utentes e permitiu mais uma vez o desenvolvimento de protótipos e de aplicações piloto para validar soluções técnicas e avaliar a aceitação dos utentes.

Com o desenvolvimento das telecomunicações (redes digitais, ISDN, satélites, etc) a telemedicina desenvolveu-se enormemente. Em Setembro de 2001 deu-se a primeira operação transatlântica, graças a uma ligação telefónica de alto débito, rápida e de qualidade constante e um robot. No anexo 1) apresenta-se uma tabela das iniciativas levadas a cabo na Europa no campo da telemedicina. Não contem todas as iniciativas mas permite ter uma noção da evolução da Telemedicina e é isso que se pretende.   

 


 

 Cronologia

 


[1] Como parte do programa “Third Framework” da união europeia.