4. Impacto do MP3
A aparição do formato MP3 e a sua popularização teve efeitos profundos na sociedade:
4.1. Comodidade
O formato MP3 permitiu uma comodidade e flexibilidade sem precedente no armazenamento e organização de música para o utilizador comum. Com efeito, permite guardar música em ficheiros de tamanho relativamente reduzido (poucos Mb por música), o que facilita grandemente a produção de cópias de segurança numa grande variedade de formatos.
Para além disso, o facto de ser um formato digital permite uma duração de vida teoricamente infinita: ao invés dos formatos analógicos, não há degradação dos dados devido a sucessivas audições e/ou cópias.
Em termos de flexibilidade são de realçar dois aspectos: a possibilidade de “saltar” para qualquer faixa ou ponto da faixa, já existente no CD mas ausente nas cassetes e difícil nos discos de vinil, é um aspecto muito importante para muitos utilizadores. Para além disso a divisão das faixas em ficheiros pequenos facilitou como nunca antes a personalização de compilações e listas de reprodução.
Finalmente, em conjunto com a democratização da Internet, o formato MP3 permite a pequenos artistas sem recursos divulgar o seu trabalho a uma base de potenciais ouvintes muito vasta [12].
4.2 Distribuição de música na Internet
A adopção por parte dos consumidores da música digital, principalmente em formato MP3, abriu as portas a uma nova forma de distribuição: as lojas de música online.
As primeiras lojas que abriram encontraram várias dificuldades [13]: houve resistência inicial dos consumidores, principalmente devido a preços muito elevados (a The Store, da Sony, que abriu em 2000, alugava as músicas por $3,50 cada), e as grandes companhias de música não queriam licenciar os seus catálogos a outras empresas (caso das lojas MP3.com, Cductive e eMusic).
Porém, com o passar dos anos, a venda de música tem vindo a aumentar devido a ofertas mais atractivas, como a iTunes Store da Apple (actualmente líder de mercado), e devido à introdução no mercado de leitores de áudio digitais portáteis a preços acessíveis.
Hoje em dia, a venda de música online tem uma fatia de mercado de 20% [14], e tem aumentado consistentemente (Figura 5).
Figura 5 – Rendimentos da venda de música digital (Fonte: [14])
4.3. Pirataria
Com o aparecimento do MP3, o primeiro formato de compressão de áudio facilmente utilizável num computador pessoal, a pirataria de música explodiu em termos de volume e alcance da população geral. O problema não era novo, pois já havia pirataria, embora em menor escala, com a cópia de cassetes e CDs [15], mas o aparecimento do MP3, combinado com o aumento das taxas de transferência na Internet, fez com que a partilha ilegal de música fosse muito mais fácil e barata que anteriormente.
Os principais veículos para a troca de ficheiros protegidos eram e são as redes peer-to-peer, tendo sido o Napster o primeiro grande programa de partilha de música. De facto, o Napster foi responsável por grande parte das trocas de música ilegal no fim dos anos 90 [16]. Com o fecho do Napster, imposto judicialmente pelas editoras de música, surgiram vários programas semelhantes, como o Kazaa e o Imesh. Hoje em dia existem muitas e variadas implementações de redes peer-to-peer, como o Emule e o Bittorrent, que alargaram a partilha de ficheiros ilegais a filmes, jogos e e-books.
A indústria musical usou várias estratégias para tentar travar a pirataria: as grandes plataformas de peer-to-peer foram atacadas em tribunal, várias companhias introduziram DRM (Digital Rights Management) nas músicas vendidas online, e houve extensas campanhas anti-pirataria (como se pode constatar reproduzindo grande parte dos DVDs comerciais). No entanto, as medidas tiveram muito pouco efeito e, hoje em dia, estima-se que 95% de toda a música transferida na internet seja ilegal [17], e as grandes companhias de música têm vindo a culpar a pirataria pelas fortes quebras de rendimentos na indústria musical.
Embora as empresas produtoras de música condenem unanimemente a partilha ilegal de música, tem havido muito debate sobre os aspectos positivos da pirataria, como a maior exposição de artistas menores e a possibilidade de ouvir antes de comprar, havendo até estudos que defendam que os piratas são os maiores compradores de música legal [18].
4.4. Leitores de MP3
Leitores de áudio portáteis existem desde o aparecimento de suportes de armazenamento que o permitam, como as cassetes e os CDs. No entanto, só com a miniaturização dos dispositivos electrónicos e a proliferação da música digital se conseguiu atingir a meta simbólica do leitor que cabe em qualquer bolso. Hoje em dia, os outros tipos de leitores portáteis desapareceram quase completamente, sendo o leitor de MP3 praticamente omnipresente.
De facto, preços acessíveis aliados à comodidade inerente ao formato abriram novos mercados aos leitores portáteis de áudio, antes quase exclusivamente usados por adolescentes.
REFERÊNCIAS
- Beating the record labels: small-time artists get a fair shot on the Internet, http://tech.blorge.com/Structure:%20/2008/12/30/beating-the-record-labels-small-time-artists-get-a-fair-shot-on-the-internet/
- Online music store, http://en.wikipedia.org/wiki/Online_music_store
- Digital Music Report 2009, IFPI, http://www.ifpi.org/content/library/DMR2009.pdf
- The History of Recorded Music – Piracy, http://www.computerdjsummit.com/members/documents/piracy.html
- Peer-to-Peer – History and Future, http://wiki.media-culture.org.au/index.php/Copyrighted_Music_Piracy
- Shocking: 95 Percent Music Downloads Still Illegal, http://www.tomsguide.com/us/mp3-downloads-music-piracy-ifpi,news-3315.html
- Study: P2P users buy more music, http://arstechnica.com/old/content/2006/03/6418.ars