Na Europa utiliza-se como tecnologia uniformizada de suporte à TDT o sistema DVB-T. No entanto, existem outros grandes sistemas de televisão digital, nomeadamente o sistema Norte-Americano Advanced Television Systems Committee (ATSC), o sistema Japonês Integrated Services Digital Broadcasting (ISDB-T) e o sistema Chinês dual standard Digital Multimedia Broadcasting - Terrestrial (DMB-T/ADBT) [4].

 


Mapa de Distribuição mundial das normas de TDT [4]

 

DVB-T
O DVB Project surgiu como um consórcio liderado pela área da Indústria sendo composto por vários organismos com o objectivo de criar standards para a distribuição de serviços digitais [9]. O DVB-T é um sistema inicialmente de âmbito Europeu, mas neste momento presente também noutras partes do mundo, desenvolvido pelo DVB Project e escolhido para a utilização na TDT em Portugal. O sistema transmite sinais áudio, vídeo e outros tipos de dados através de um canal de transporte MPEG. Actualmente alguns países utilizam já a norma MPEG-4, em detrimento do MPEG-2 como é o caso Português.
O DVB apresenta como objectivos iniciais [1]:
• Entrega de vídeo digital de alta qualidade;
• Entrega com boa qualidade de canais de TV usando uma largura de banda estreita e aumento do número de canais correntes;
• Recepção portátil, em terminais de bolso equipados com antenas;
• Possibilidade de transmissão por varias redes de telecomunicações e integração com o mundo dos computadores;
• Baixo custo dos receptores, dado que a maior complexidade deverá estar do lado do transmissor (transmissão ponto-multiponto);
• Imunidade a interferências provocadas por sinais secundários ou réplicas de sinal.
As especificações impostas pelo DVB vão ser responsáveis pelas definições técnicas do sistema DVB-T. Os principais módulos especificados são [1]:
• Codificação áudio e vídeo (MPEG-2 e MPEG-4);
• Sincronização e multiplexagem;
• Codificação e modulação de canal.
 


Representação da arquitectura para o caso do MPEG-2 [1]

 

MPEG-2
O MPEG-2 é utilizado em várias normas de televisão digital para codificação de áudio e de vídeo, tendo sido desenvolvido pelo Motion Pictures Expert Group (MPEG). Para além de funcionalidades importantes tais como codificação de conteúdos entrelaçados, criação de fluxos escaláveis e definição de níveis e perfis para as aplicações e serviços, o MPEG-2 permite obter uma qualidade não inferior, ou mesmo superior, aos sistemas analógicos (débito entre 3 e 6 Mbit/s). É possível obter um factor de compressão até 55 vezes melhor relativamente ao vídeo em Pulse-Code Modulation (PCM). Esta norma pode ser dividida em várias partes, das quais se destacam sistema, vídeo e áudio [1].
Parte1 (Sistema) – Engloba o Transport Stream (TS) que trata do envio dos dados digitais de vídeo e áudio por canais com perdas e o Program Stream (PS) que foi desenvolvido para meios sem erros tal como os DVDs.
Parte 2 (Vídeo) – Apresenta características como predição, compensação de movimento, DCT, codificação entrópica, quantificação, codificação de conteúdos entrelaçados e a codificação de fluxos escaláveis. É ainda de referir que o MPEG-2 vídeo está optimizado para funcionar entre 3 e 6 Mbit/s de modo a obter maior eficácia.
Parte 3 (Áudio) – Apresenta extensão para multi-canal e compatibilidade com o áudio MPEG-1.
 

 Esquema de blocos da codificação de fonte do MPEG-2
 

MPEG-4
A norma MPEG-4 foi introduzida no ano 1998 sendo um conjunto de padrões de compressão de áudio e de vídeo relacionado com o MPEG. Uma vez que foi esta a tecnologia utilizada no caso português, ir-se-á aprofundar um pouco mais que o MPEG-2.
Muitas das funcionalidades do MPEG-4 são comuns aos formatos MPEG-1 e MPEG-2 e outras foram adicionadas tais como: suporte ao VRML para renderização 3D, ficheiros compostos orientados a objectos (incluindo áudio, vídeo e objectos VRML), suporte a Gestão de Direitos Digitais especificado externamente e vários outros tipos de conteúdos interactivos. Salienta-se também a Network Abstraction Layer (NAL) que permite a este codificador adaptar-se a diversos meios de transmissão. O Advanced Audio Codec (AAC), que utiliza codificação com perdas (lossy), apareceu associado ao MPEG-2 (Parte 7) e faz também parte do MPEG-4 (Parte 3).
O MPEG-4 era inicialmente destinado a vídeos de baixo débito binário mas entretanto as suas capacidades foram expandidas, como por exemplo o MPEG-4 parte 10, recomendação H.264 da ITU-T e conhecido como standard internacional 14496-10 pela ISSO/IEC, sendo neste momento eficiente para vários formatos de transmissão tais como xDSL, modems de cabo e UMTS. A norma especifica apenas o comportamento do descodificar dando total liberdade aos fabricantes do codificador para utilizarem o seu know-how de modo a obter os melhores resultados para a aplicação pretendida. A figura 4 apresenta a relação entre os vários componentes da norma MPEG-4.
 

Layers do MPEG-4


O Network Abstraction Layer (NAL) possibilita a adaptação do codificador a vários meios de transporte. Esta funcionalidade permite o transporte de MPEG-4 sob várias camadas de transporte. Deste modo é possível utilizar as camadas de transporte do MPEG-2 para transmitir MPEG-4.
 

Codificação de vídeo
De uma maneira geral a compressão de vídeo é conseguida à custa da redundância espacial e da redundância temporal.
A redundância espacial aproveita o facto de numa imagem existirem zonas que se repetem. Utilizando a transformada DCT de modo a fazer-se uma transformação invertível, obtém-se de uma imagem um conjunto de zonas que tornam mais evidente a redundância para que esta possa ser mais facilmente reduzida.
A redundância temporal explora o facto de numa sequência de vídeo as imagens sucessivas serem bastante semelhantes.
O intuito é alcançar a máxima compressão possível mantendo ao mesmo tempo a qualidade subjectiva. A codificação da primeira imagem tem de ser realizada explorando a redundância espacial. A partir do momento em que estão disponíveis imagens anteriores, estas podem ser codificadas utilizando técnicas de compensação de movimento. Este método é baseado na utilização de vectores de movimento que indicam a movimentação de blocos de imagens anteriores, minimizando assim a quantidade de informação para codificar a imagem actual.
 

Codificação e Modulação de Canal
Após a fase de codificação e digitalização do sinal de vídeo e de áudio através de MPEG-2 ou MPEG-4 é necessário fazer uma adaptação do sinal ao meio através de uma modulação com a respectiva codificação de canal.

 



Codificação de canal DVB-S e DVB-T [1]

 

A correcção de erros é feita seguindo o modelo da figura 5. O bloco Reed-Solomon (RS) permite a detecção e correcção de símbolos corruptos. Este código tem capacidade para corrigir 8 bytes em cada bloco e no caso de esse limite ser passado, é retornada uma informação de falta de capacidade para corrigir esses erros. O interleaver por si só não possibilita a correcção de erros, apenas ordena os bits de modo que seja mais fácil e mais eficiente a correcção de erros de rajada e de bit, que são os que ocorrem mais frequentemente. A codificação convolucional é introduzida como um complemento da codificação RS. Este bloco aumenta o débito de saída para o dobro do de entrada, ou seja, é feita uma duplicação dos dados de entrada. O bloco poncturing é usado para aumentar a taxa de codificação, levando a que alguns bits que estão á saída do codificador convolucional não sejam transmitidos, o que por sua vez leva a que o débito total seja reduzido.
Quanto à modulação há alguns factores que terão de se considerar para a sua escolha, nomeadamente:
• Características do canal;
• Eficiência espectral (numero de bits transmitidos por hertz);
• Robustez á distorção de canal;
• Tolerância a imperfeições do transmissor e receptor.
As modulações básicas mais utilizadas são:
• Modulação em Amplitude (ASK);
• Modulação em Frequência (FSK);
• Modulação de Fase (PSK);
• Modulação em Amplitude e Fase (QAM).
Embora sendo uma tecnologia com um grau de complexidade acentuado na sua implementação, o DVB-T usa o tipo de modulação Code Orthogonal Frequency Division Multiplex (COFDM), que representa o tipo de modulação OFDM combinado com codificação de canal. Este tipo de modulação foi concebida para combater o efeito provocado pelas interferências multi-caminho nos receptores móveis (multipath). O COFDM consegue ter uma melhor eficiência espectral pois divide uma única transmissão em múltiplos sinais com menor ocupação espectral. É de referir também que é bastante robusto a interferências e facilita o processo de codificação e descodificação dos sinais.
 


Esquema de transmissão OFDM [1]


O COFDM é caracterizado pela existência de símbolos que consistem num elevado número de portadoras, onde estas são ortogonais entre si. Nesta modulação os símbolos são caracterizados por 1805 portadoras no modo 2k ou 6817 no modo 8k, sendo utilizada a Transformada Inversa de Fourier para o cálculo dos símbolos. No DBV-T os símbolos são acordados com a trama de transmissão, consistindo cada uma em 68 símbolos consecutivos. Para reduzir a complexidade do receptor, a cada bloco modulado por OFDM é usada a técnica cyclic prefix (repetição do fim do símbolo no início deste) que tem como objectivo evitar o fenómeno de multipath (que provoca interferências e perda de sinal). O intervalo de guarda pode ter uma dimensão relativa à duração original do bloco de 1/32, 1/16, 1/8 ou 1/4 e quanto maior for, mais tolerável será o sistema. O aproveitamento da banda variará contudo, na medida inversa [1].
 

ATSC
A norma de televisão digital ATSC surgiu nos Estados Unidos em 1987 com o intuito de substituir o sistema de televisão analógico NTSC [5]. Desde Outubro de 1998, está em operação comercial nos Estados Unidos, tendo sido implantado também no Canadá e na Coreia do Sul e tem um mercado actual de 267 milhões de televisores. Esta norma utiliza a codificação Dolby AC-3 para o áudio e o sistema MPEG-2 para a codificação do sinal de vídeo e multiplexagem de fluxos elementares.
 




Arquitectura da Norma ATSC


O sistema de áudio Dolby AC-3 [6] é um algoritmo optimizado para a radiodifusão, mas por outro lado, não suporta sucessivas operações de descodificação/rectificação do sinal, necessárias em estúdio. A saída do multiplexer, sistema MPEG-2, é um feixe de 19,39 Mbit/s. Esse feixe pode ser aplicado a um modulador 8-VSB (norma ATSC para radiodifusão terrestre), 64-QAM (preferencial para transmissão via cabo) ou QPSK (preferencial para satélite).

 
ISDB-T
Esta norma surgiu no Japão sendo uma evolução do DVB-T. O ISDB-T é considerado o mais flexível e o que melhor reponde às necessidades de mobilidade e portabilidade.
Como referido anteriormente, o ISDB-T evoluiu em relação ao DVB-T tendo sido acrescentadas as seguintes características [7]:
• Interleaver temporal para melhorar o desempenho na presença de interferências concentradas;
• A banda de RF de 6MHz foi subdividida em 13 segmentos independentes, com a possibilidade de serem enviadas 3 programações diferentes ao mesmo tempo;
• Método de portadora de 4K;
• Método de modulação Differential Quaternary Phase Shift Keying (DQPSK).
Tal como o DVB-T, este é um sistema de multiportadoras com uma taxa de bits na entrada do modulador que pode ser variável dependendo da transmissão. A modulação utilizada é também a mesma do DVB-T, ou seja, COFDM.
Como principais características do ISDB-T destacam-se:
• Codificação áudio e vídeo: MPEG-2 Áudio (AAC), MPEG-2;
• Opções de modulação: 64 QAM-OFDM, 16 QAM-OFDM, QPSK-OFDM e DQPSK-OFDM;
• Portadora: 2k, 4k ou 8k;
• Ritmo de FEC: 1/2, 2/3, 3/4, 5/6 ou 7/8;
• Intervalo de Guarda: Time, Frequency, bit, byte.


DMB-T/ADTB
A norma de televisão digital DMB-T surgiu na China através de um projecto de investigação para a União Europeia.
As principais características do DMB-T são [8]:
• Modulação OFDM e DQPSK;
• Compressão de vídeo MPEG-4 parte 10 (H.264) e áudio MPEG-4 parte 3 BSAC ou HE_AAC V2.
Alguns países da Europa testaram este sistema cuja principal característica é a capacidade de utilização em movimento, permitindo que os utilizadores desta tecnologia sejam capazes de reproduzir nos seus dispositivos móveis áudio e vídeo, enquanto se deslocam a velocidades perto de 200 km/h. Estes dispositivos móveis podem ser o telefone, TV portátil, PDA e sistemas de informação para automóveis. É ainda de referir que este sistema possui os terminais mais baratos.
 

Comparação entre as três principais soluções de TV Digital [1]
 

Imprensa

"TDT: 40% do País tem melhor som e imagem" Correio da Manhã - 30 de Abril 2009

"Onze países europeus já têm TDT" Diário Económico - 28 de Abril 2009

"Research and Markets: Digital Terrestrial TV Set Top Boxes 2009: Analog Shut Off Fuels Worldwide Market" Research And Markets - Março 2009