Com o advento das novas tecnologias surgiu a televisão digital, que veio revolucionar a forma como todos nós vemos a televisão. A experiência de televisão, cada vez mais centrada em conteúdos, sofreu uma alteração tremenda com a introdução desta tecnologia, permitindo televisão em alta definição e vários canais de som, aproximando cada vez mais a sala de estar a uma sala de cinema. Mas, a televisão digital não ficou por aqui e foi mais além: tornou a experiência televisiva em algo mais personalizado, mais fácil de usar e interativo. O conceito de comunicação unidirecional está desatualizado, dando lugar à bidirecionalidade, na qual o espectador representa um papel importante. A introdução da televisão digital veio também alterar a forma como os operadores se movimentam no mercado e os próprios modelos de negócio sofreram alterações, nomeadamente no que diz respeito aos intervenientes. É neste contexto que este artigo pretende dar a conhecer o que é a televisão digital, quais as tecnologias disponíveis em Portugal, quais os modelos de negócio, os serviços e os intervenientes e por fim dar a conhecer em que direção aponta o futuro em Portugal da Televisão Digital.
Enquadramento Histórico
>A história da comunicação áudio e vídeo começa com o conto de histórias na antiguidade. Desde então, contar e ouvir histórias tem sido uma das atividades mais apreciadas pela humanidade [4]. Enquanto antigamente as pessoas se reuniam à volta de uma fogueira e ouviam histórias, agora reúnem-se à volta da televisão para ver e ouvir as “histórias”.
A história da televisão propriamente dita é iniciada no final do século XIX quando alguns “inventores especularam acerca de transferir imagens usando sinais eléctricos” [4]. É em 1884 que Paul Nipkow criou um dispositivo mecânico que podia fazer o scan de uma imagem. Este sistema TV nunca foi posto em prática Só nos anos 20 surgem os primeiros conjuntos de câmaras e televisões que funcionaram na realidade. John Logie Bard começou as primeiras transmissões de Inglaterra e produziu kits para o seu conjunto de TV, ao qual chamou televisor. Nesta época, todos os kits foram vendidos apenas a pessoas curiosas e nunca teve aceitação comercial propriamente dita. [4] O que possibilitou este alargamento, foi a introdução da televisão electrónica nas décadas de 30 e 40. Esta televisão tinha como base o tubo de raios catódicos e depressa se começaram a fazer standards na Europa e nos Estados Unidos que regularizavam o número de linhas de imagem, a frequência de atualização do ecrã e foi nessa altura que surgiram métodos de refrescar o ecrã intercaladamente ou progressivamente. [4]
Os próprios meios de transmissão de televisão têm vindo a mudar desde os seus primórdios. No início, apenas haviam transmissores terrestres, mas ao contrário dos transmissores de rádio, a televisão requer muito mais largura de banda para a informação que transporta. Na televisão analógica terrestre, usa-se AM (Amplitude Modulation) para o sinal de vídeo e FM (Frequency Modulation) para o sinal de áudio. A televisão a cores surge entre os anos 50 e 60 com a divisão da imagem em três componentes principais (RGB – Red, Green and Blue). Depressa se chegou à conclusão que o olho humano não distingue a cor da mesma forma que distingue escuro e claro, pelo que rapidamente se aproveitou essa “lacuna” no sistema visual humano para dar mais importância ao sinal de luminância em detrimento dos sinais de crominância. Importa referir que a transição para a televisão a cores foi feita de forma a que o sinal recebido a cores pelas televisões a preto e branco pudesse ser usado, permitindo desta forma uma visualização monocromática (apenas a luminância) [4]. Os EUA foram os primeiros a introduzir a televisão a cores no mercado, por intermédio do NTSC (National Television System Committee). O sistema tinha alguns problemas técnicos, nomeadamente os problemas causados no tom da cor quando o sinal estava sujeito a reflexos contra edifícios ou montanhas. Seguidamente, surgiram os alemães com o PAL (Phase Alternating Line). Neste sistema, o problema da tonalidade da cor ficou resolvido, uma vez que os erros causados pelos reflexos em árvores e edifícios eram direcionados para a saturação da cor, à qual o sistema visual humano é menos sensível [4]. Por volta das décadas de setenta e oitenta foi criado e iniciou-se a comercialização do gravador de vídeo, cujo standard vencedor foi o VHS (Video Home System). Nessa altura foi um grande salto no conceito de ver televisão uma vez que possibilitou a gravação de programas que passavam a horas inconvenientes [4]. Nas décadas de oitenta e noventa surgiu a televisão por cabo na Europa (já então em uso nos Estados Unidos) e os satélites com maior capacidade, o que possibilitou um grande incremento do número de canais a que se podia assistir em casa através de “Direct-to-Home broadcasting”. E é a partir da década de noventa [4] que o sonho de digitalizar o sinal de televisão começa a ser uma realidade e mais tarde se chega aos serviços que a seguir vão ser explicados.