Video por Satélite
Com a expansão comercial da televisão e das suas respectivas redes de transmissão nos anos 70, rapidamente se percebeu que toda a infraestrutura de distribuição dos sinais televisivos era insuficiente para a procura a larga escala que começou a ter. A rede terrestre de distribuição era, em qualquer parte do mundo, inexistente ou limitada, a micro redes locais e a transmissão de sinal por ondas rádio, ajudada com retransmissores de sinal não garantia uma cobertura respeitável, quando comparada à exigida.
Nos anos 60s e 70s assistem-se aos primeiros passos na tentativa de implementação dum sistema de distribuição de sinais televisivos analógicos por satélite, tanto nos EUA como na União Soviética, mas foi só com a revogação do licenciamento obrigatório para recepção unidireccional pela FCC, nos EUA, em 1979[1], que o sistema se tornou popular, particularmente nos EUA. Esta revogação permitiu que qualquer cidadão americano pudesse ter um receptor de sinais retransmitidos por satélite, causando uma explosão no número de americanos que adoptaram este sistema ao longo de toda a década dos 80s e no início dos 90s.
O sistema era aliciante, particularmente para quem não vivesse nas imediações das grandes cidades, já que apenas seria necessária a aquisição duma antena parabólica (mesmo que de dimensões e custos relativamente elevadas – normalmente com diâmetros superiores a 3 metros e preços na ordem dos milhares de dólares[1]) para a recepção de canais de televisão em canal aberto que doutra maneira seriam impossíveis de receber. A este sistema baptizou-se Direct-To-Home (DTH), já que permitia ao consumidor receber em sua casa um sinal directamente proveniente do distribuidor
Outro sistema com particular relevo no crescimento do video por satélite, durante a sua fase embrionária, foi o sistema Digital Satellite News Gathering (DSNG), propulsionado pela oportunidade que os canais de televisão com interesses noticiosos viram no potencial do video por satélite, que lhes permitia acompanhar os acontecimentos in situ, através da retransmissão por satélite de sinais emitidos a partir duma carrinha de notícias equipada com uma antena para a central televisiva. Assim as reportagens poderiam ser feitas em directo, sem necessidade de gravação no lugar e posterior reprodução em estúdio, adicionado uma nova dimensão ao jornalismo e dando um passo importante no conceito moderno de imediatismo na divulgação da informação.
Com o estabelecimento destes sistemas, e com a emergência da era digital, veio a necessidade de criar um conjunto de normas visando a convergência de todos os elementos dos sistemas para um standard que possibilitasse a construção e manutenção duma rede compatível comum de distribuição de conteúdos. No início dos anos 90s as principais entidades reguladoras mundiais desenvolveram tais instrumentos de padronização e standards adaptados ao video por satélite, como o International Services Digital Broadcasting Satellite (ISDB-S) no Japão, Digital Video Broadcast Satellite (DVB-S) na Europa e o Advanced Television Systems Comittee (ATSC) nos Estados Unidos (este último o sucessor directo to NTSC, usado durante décadas – e ainda correntemente – como o padrão de distribuição televisiva nos EUA). Estes standards contribuiram para a solidifacação dos sistemas nas suas respectivas áreas de implementação e abriram caminho ao progresso tecnológico organizado em cada uma das plataformas de distribução criadas.
State-of-the-Art
Como consequência disto hoje o video por satélite ganhou uma amplitude de aplicação mais vasta, funcionando como suporte de transmissão em três áreas principais de actuação: Serviços Fixos de Satélite, em que um satélite faz a retransmissão de sinais tipicamente entre centrais televisivas (distribuição complementar para as Transmissoras Multi-Canal por cabo ou fibra óptica, directos televisivos – DSNG, etc) mas também para outras aplicações como a videoconferência, Business Television (BTV) ou aprendizagem à distância entre unidades académicas; Satélite de Transmissão Directa, em que um satélite retransmite com o intuito de distribuir conteúdos televisivos duma central televisiva para uma multitude de consumidores individuais (DTH – tanto no formato SDTV como em HDTV – ou para recepção em terminais móveis); e ainda para usos militares de comando centralizado em tempo real, com o auxílio a imagens video.
A revolução digital permitiu o nascimento de técnicas de codificação e compressão de dados como a série MPEG (mais notavelmente o MPEG-2), que veio permitir uma maior capacidade de transmissão de dados (e consequentemente um maior número de canais à disposição do consumidor), a diminuição no tamanho dos receptores para diâmetros de menos de 1 metro, o alívio no custo de compra dos mesmos (um aparelho receptor pode-se adquirir por menos de 100 euros[1] nos dias actuais), a consolidação da confiança nos sistemas nas suas várias vertentes e a suas boas perspectivas futuras levou a que hoje em dia se assista a uma globalização do fenómeno do video por satélite. Deixou na realidade de ser uma demonstração vanguardista das capacidades de qualquer entidade para se tornar um elemento paradigmático na complexa rede de telecomunicações mundial.
Bem ilustrativo deste fenómeno são os números: em 2006, a rede global de satélites dedicados às telecomunicações ascendia aos 229[2], dum total de 330[3] em órbita, sendo que a operação destes satélites originou uma receita na ordem dos 7,275 biliões de dólares[2] (cerca de 5,2 biliões de euros ao câmbio actual).