Os Standards
Algumas das principais reguladoras ligadas às telecomunicações desenvolveram standards específicos para uniformizar a camada física da transmissão video por satélite. O nível de adopção de cada um destes standards é condicionada por uma série de factores geográficos, políticos e técnicos, à semelhança do que aconteceu nos casos do VHS/BETA, PAL/SECAM/NTSC, e mais recentemente, Blu-Ray/HD-DVD.
Para diferentes standards, existem diferentes normas mandatórias para toda e qualquer parte do processo de produção, processamento e transmissão de conteúdos. É nestes standards que se definem, por exemplo, quais as especificações de compressão que se devem utilizar. Aqui descrevem-se apenas as de maior relevância e influência no video por satélite.
DVB-S
O sistema DVB-S (Digital Video Broadcasting - Satellite), desenvolvido pelo DVB Project, um esforço conjunto de três entidades reguladoras europeias (ETSI, CENELEC e EBU), é o standard original da DVB para televisão por satélite. Este sistema foi implementado pela primeira vez em 1994 e é correntemente o sistema mais utilizado a nível mundial.
Do ponto de vista técnico, o sistema pode operar tanto em modo MCPC como SCPC, tendo suportado dessa forma, por exemplo, o crescimento acentuado que as distribuidoras multicanal tiveram durante os anos 90. A norma de compressão utilizada é o MPEG-2 (neste contexto conhecida como MPEG-2 TS), sendo o controlo de erro efectuado por intermédio de uma estratégia FEC.
Este standard é convenientemente “desdobrável” no sistema DVB-T, a sua contraparte terrestre, permitindo dessa forma a projecção de sistemas híbridos de distribuição e garantindo a sua interoperabilidade sem grandes esforços de conversão.
DVB-S2
Com o desenvolvimento e procura comercial do formato HDTV, a crescente flexibilidade no acesso a conteúdos multimédia disponíveis na internet e a evolução na capacidade multimédia dos terminais móveis disponíveis ao consumidor, o DVB-S tornou-se desadequado às novas necessidades do mercado já que as suas normas são demasiado limitativas para as novas exigências tecnológicas. Foi neste espírito que o DVB Project idealizou a 2ª geração deste sistema, o DVB-S2, tendo o lançado em 2005.
O DVB-S2, ainda que totalmente compatível com o seu predecessor (e com o DVB-DNSG), vem desta forma adicionar suporte a serviços de distribuição baseados no formato HDTV, ao mesmo tempo que mantendo o suporte ao tradicional SDTV, sendo que, para além disso, foi desenhado com aplicações como a redistribuição de conteúdos para redes terrestres, DNSG e distribuição de conteúdos multimédia pela internet em vista. Para dar resposta a estas exigências para todas as fases de produção, processamento e transmissão do sinal foram adoptadas novas normas, ajustadas à realidade tecnológico actual.
Pelo interesse e relevância deste standard, importa explorar em maior detalhe as especificações e normas que o definem:
Como consequencia destas caracteristicas, é possível, utilizando este standard, atingir graus de desempenho a 0,7 dB do Limite de Shannon.
DVB-SH
O DVB-SH é um standard de camada física estabelecido em 2007 pelo DVB Project, desenhado para distribuir conteúdos multimédia em IP a terminais móveis. À semelhança do DVB-S2, este standard foi desenvolvido como consequência da necessidade de extender as capabilidades dum predecessor, neste caso o DVB-H.
Uma topologia típica para uma aplicação deste standard, seria, por exemplo, um sistema cujo downlink consistisse num híbrido satélite/terrestre e o uplink fosse estabelecido segundo a plataforma GPRS.
Esta especificação é baseada na distribuição DVB IP Datacast (IPDC) e contempla dois modos de operação:
Este sistema foi projectado para trabalhar em frequências abaixo dos 3 GHz, suportando as bandas UHF, L e S.
ISDB-S
Desenvolvido e mantido no Japão pela ARIB, o ISDB-S é um standard bastante similar ao DVB-S europeu.
As diferenças principais prendem-se com os tipos de modulação utilizados e com o facto de que o ISDB-S se reparte em 13 subcanais de transmissão. Desses, 12 são usados para video, enquanto o último serve como banda de guarda.
O ISDB-S funciona na banda dos 12 GHz e utiliza modulação PSK. O standard foi desenvolvido originalmente no Japão para fluxos digitais mas hoje em dia também funciona com fluxos MPEG-4, particularmente no Brasil, permitindo formatos HDTV.
Ao contrário dos outros sistemas, o standard ISDB inclui encriptação nativa MULTI2 nas suas transmissões, para restringir o uso indevido dos seus conteúdos.
A “Guerra” de standards
Comercialmente existe uma clara hegemonia do standard DVB-S a nível mundial, e tudo aponta para que essa continue a ser a tendência, tendo em conta as melhorias introduzidas na 2ª versão do standard, o DVB-S2. Na verdade, a ATSC, a entidade americana responsável pelo desenvolvimento do standard de televisão digital homónimo, que a 12 de Junho deste ano irá suceder oficialmente ao eminentemente obsoleto NTSC, não tem vindo a se esforçar muito no sentido de implementar o seu próprio standard para distribuição video por satélite, adoptando o europeu DVB-S como plataforma comum para transmissões nesse domínio. Por outro lado o ISDB-S cobre apenas o Brasil e Japão e o sistema chinês ABS-S tem ainda pouca expressão.
A introdução do novo sistema DVB-S2 por seu turno abre as portas a melhorias consideráveis no desempenho da transmissão video por satélite. Na realidade esperam-se ganhos de mais de 30%[4] no desempenho total ponderado, mormente consequências das melhores técnicas de compressão e modulação envolvidas e da possibilidade de implementação de sistemas ACM/VCM.
Apesar destas notórias vantagens, a conversão total do DVB-S para o DVB-S2 não se deverá dar nos próximos anos, já que, apesar das campanhas de marketing agressivas por parte das distribuidoras multicanal, promovendo o HDTV, a maioria dos consumidores parecem se encontrar satisfeitos com a oferta tradicional da SDTV. Por outro lado as novas normas técnicas exigem uma substituição dos receptores em aplicações DTH, para se adequarem às novas especificações de compressão e modulação utilizadas.
[4]Alberto Morello, Vittoria Mignone, “DVB-S2: Ready for lift off”