7. Mercado


7.1. Potencial


   Assim como o mercado da rádio no início, o mercado de distribuição de conteúdos de vídeo na Internet está bastante aberto. Ao contrário da televisão e da rádio, a Internet não se tornou uma rede de transmissão altamente regulada. Só este facto abre possibilidades da transmissão de vídeo onde anteriormente não estavam disponíveis. No entanto, alguns aspectos económicos também se aplicam, como o facto da maioria dos espectadores não estarem dispostos a pagar pela maioria dos conteúdos de entretenimento. Uma vez que o mercado dos vídeos de entretenimento na Internet é bastante aberto, necessita dum modelo de negócio sustentável. Tendo em conta o que aconteceu no passado, é de esperar que as empresas que fornecem a conectividade da Internet tenham interesse em fornecer uma transmissão de qualidade, dos conteúdos de entretenimento, aos utilizadores da Internet, assim como fizeram os fabricantes de rádio e de televisão e os fornecedores de televisão por cabo. É também de esperar que, aquele segmento do mercado guiado por um espírito de inovação, tenha de encontrar um modelo de negócio mais estruturado, com uma maior economia na produção e distribuição de conteúdos.



7.2. Uso de tecnologia P2P


   O vídeo na Internet tem um potencial muito grande, sendo possível um aproveitamento comercial enorme, tendo em conta que o cinema é das indústrias mais lucrativas do Mundo.

 

Figura 7.2.1 - Rede peer-to-peer cria um efeito pirâmide, onde os novos utilizadores obtêm conteúdo de outros utilizadores em vez de um único servidor

 

 

   Seguindo o sucesso relativo do iTunes, como loja online de música em formato digital, existem já alguns projectos importantes para rentabilizar a transmissão de vídeos online. Exemplo disso é o uso legal de tecnologia P2P (Peer-to-Peer), tecnologia popular na troca ilegal de ficheiros na Internet, uma vez que possibilita a distribuição de ficheiros em rede e que tem como característica permitir o acesso de qualquer usuário dessa rede a um nó, ou a outro usuário de forma directa, possibilitando a partilha entre os utilizadores de: ciclos de processamento das máquinas, banda de rede, espaço de armazenamento entre outros recursos que em outros sistemas acabavam por ser desperdiçados.

   O uso de um sistema de partilha de ficheiros descentralizado faz muito sentido do ponto de vista comercial, visto que minimiza a “tensão”, por ter utilizadores a fazerem o upload de porções do ficheiro que estão a fazer o download, permitindo facilitar a transferência de ficheiros de vídeo de alta qualidade.

   Segundo [5], as cadeias britânicas BBC e Sky (80% do mercado de televisão no Reino Unido), prevêem lançar sistemas de distribuição de televisão, através do software P2P da Kontiki.

   Este e outros precedentes vão criar variadas oportunidades de negócio, tanto nos conteúdos mainstream como nos de nicho. As grandes companhias com conteúdos media que não disponibilizarem os seus vídeos on-demand vão ficar para trás, à medida que os consumidores escolherem alternativas mais flexíveis. No entanto poderão ser as pequenas empresas a beneficiar mais, uma vez que pequenos sites de vídeo e produtores amadores poderão ter o mesmo acesso às salas de estar que as séries mais populares e também muito mais caras.

 

 

7.3.Abordagens possíveis para a distribuição de TV pela Internet


   Pode-se considerar que as principais formas de transmissão de TV pela Internet são a IP-TV e a Internet Television.

 

   A IP-TV é normalmente financiada e suportada por grandes empresas de telecomunicações que têm como objectivo criar um produto competitivo que seja uma alternativa à televisão digital (e aos serviços digitais) por cabo ou por satélite [6].

   Há um portador físico que tem canais físicos e uma infra-estrutura que controla as operações. O consumidor opera directamente com este portador.

   A IP-TV pode ser vista como um upgrade significativo das infra-estruturas de conectividade, a ser concretizado em alguns anos, e que sublinha as grandes mudanças e melhorias na conectividade, transporte e dispositivos de entrega tanto no ambiente do operador como do lado do consumidor.

 

   A abordagem da IP-TV é uma abordagem geográfica. Isto deve-se ao facto da infra-estrutura de distribuição ter como base regiões e vizinhanças ligadas à casa do consumidor. A informação relativa à experiência do utilizador está associada e contida na respectiva set-top box. Os regulamentos e políticas locais influenciam e limitam a IP-TV a um modelo fortemente geográfico.

   A oferta da IP-TV consiste essencialmente no mesmo produto e programação oferecida pela televisão digital por cabo ou por satélite. Oferece serviços semelhantes como o on-demand e o pay per view, mas com a hipótese de haver maior integração com o serviço de voz e com preços diferentes.

Figura 7.3.1 - exemplo de uma plataforma de IP-TV

 

 

   A Internet Television é bastante diferente em termos de modelo para o consumidor, edição e infra-estruturas.

   Na abordagem da Internet Television, o modelo é aberto aos direitos de autor, uma vez que é baseado no mesmo modelo que existe na Web, ou seja qualquer pessoa pode criar um terminal e a partir daí publicar para o Mundo inteiro. Pode ser um indivíduo a criar um vídeo para uma pequena audiência ou um editor tradicional que ofereça os canais básicos de cabo.

   Na Internet Television o editor tem um canal de comunicação directo com o consumidor. O editor de conteúdos tem a capacidade de chegar directamente aos consumidores através de diversos dispositivos independentes de qualquer portador ou operador específico. A Internet Television é uma abordagem que também ambiciona ser o mais independente possível de dispositivos. O objectivo é ser acessível de qualquer computador e ligação no Mundo, e não estar ligado fisicamente a uma set-top box.

   A Internet Television vai ser integrada nos já existentes mecanismos de experiência do utilizador na Internet, como o acesso a serviços, a descoberta de recursos e partilha de experiências. Num futuro próximo irá inevitavelmente fundir-se com o mundo do vídeo e dos serviços da televisão.

   Não serão precisas novas infra-estruturas para acrescentar valor à oferta, sendo possível usufruir do serviço com as tecnologias actuais como o ADSL, o cabo, o wi-fi ou por satélite.

 

   O modelo de negócio tem um alcance global, onde o vídeo e os serviços de televisão que são oferecidos num local podem ser acedidos de qualquer parte do Mundo (desde que sejam respeitados os direitos de distribuição).

   A Internet Television promete o acesso a muitos novos produtos, maior variedade de programação e muito maior controlo sobre quando, onde e como os utilizadores podem ter acesso a essa programação.

   Os principais desafios são: o peso que a indústria do cabo tem na distribuição de produtos de vídeo; o controlo das infra-estruturas físicas por parte das grandes empresas de telecomunicações; os direitos de autor da propriedade intelectual; conflitos de canais com os operadores existentes; questões relacionadas com a segurança e a pirataria; e as barreiras tecnológicas.

   Pode-se prever que a indústria existente irá sofrer uma grande transformação nos próximos cinco a dez anos. Durante este processo os consumidores podem esperar um maior poder de escolha e controlo sobre os seus conteúdos de vídeo e experiências dramaticamente mais ricas do que com os modelos tradicionais de distribuição de vídeo por cabo ou por satélite.

   Muito do dinheiro dos consumidores e da publicidade passará a ter como destino serviços de distribuição de vídeo na Internet.

   Surgirão mais oportunidades para os detentores de conteúdos, especialmente para aqueles que criaram produtos de vídeo interessantes e com valor.

   Vão ser necessários milhares de novos programadores e criadores de vídeo. Os custos de produção de vídeo vão continuar a baixar, sendo cada vez mais fácil conseguir um bom valor de produção devido ao baixo custo de software e hardware de produção de vídeo. O apoio económico aos pequenos editores vai subir originando milhares de novos editores de vídeo.

   O aspecto mais importante que sublinha todas estas diferenças, é a mudança, que se irá verificar na Internet Television, de um modelo fechado de software, hardware e rede para um modelo de plataformas abertas, onde qualquer pessoa possa aceder, usar e contribuir.



7.4. Triple Play


   Nas telecomunicações, Triple Play é um termo de marketing para o serviço que disponibiliza três serviços numa única ligação de banda larga: a Internet de alta velocidade, televisão (Video on Demand ou transmissões regulares) e o serviço de telefone. Triple Play assenta num modelo de negócio combinado, em vez de utilizar um padrão comum.

   Actualmente, os serviços Triple Play são oferecidos por operadores de televisão por cabo assim como por operadores de telecomunicações, o que permite que haja competição entre ambos. Assenta na hipótese de que uma solução integrada aumenta o número de clientes, desde que estejam dispostos a escolher entre fornecedores de serviços.

   Para o serviço de telefone LEC (local exchange carriers), o Triple Play é entregue usando uma combinação de tecnologias de fibras ópticas e DSL (digital subscriber line) na sua base residencial. Esta configuração utiliza as comunicações em fibra óptica para chegar a locais distantes e usa o DSL no cabo twisted pair já existente para o antigo serviço de telefone como o acesso de “último quilómetro” à casa do cliente. Os operadores de televisão por cabo utilizam uma arquitectura chamada HFC (hybrid fibre coaxial) para terem uma oferta de banda larga usando o cabo coaxial disponível, em vez de um twisted pair para o “último quilómetro” de transmissão padrão. As casas dos clientes podem situar-se em ambientes residenciais, em moradias ou até em escritórios.

 

Utilizando DSL no cabo twisted pair, os conteúdos de televisão são distribuídos utilizando IP-TV onde o conteúdo é enviado ao cliente num formato de transporte MPEG-2 (designação para um grupo de codificações padrão para áudio e vídeo digital).

Numa rede HFC a televisão pode ser uma mistura de sinais analógicos e digitais de televisão. Uma set-top box é usada na casa do cliente para que este possa controlar o que vê e utilizar novos serviços como o movies on demand. A Internet é distribuída via ATM (Asynchronous Transfer Mode) ou DOCSIS (Data Over Cable Service Interface Specification), normalmente fornecida como um porto 10BASE-T Ethernet para o cliente. O serviço de voz pode usar a interface da linha tradicional de telefone POTS (Plain Old Telephone Service) como parte do legado da rede telefónica ou usando o VoIP (Voice over Internet Protocol). Numa rede HFC é utilizado o VoIP para o serviço de voz.

 

 

Figura 7.4.1 – Serviços de entretenimento Triple Play

 

 

   Alguns fornecedores de serviços estão apostar na Ethernet para as redes residenciais e na FTTH (Fiber to the Home) que suportam os serviços Triple Play e evitam as desvantagens de adaptar a transmissão em banda larga a um legado da rede.

   O Triple Play deu origem ao termo Quadruple Play onde as comunicações wireless são introduzidas para distribuir vídeo, Internet e voz. Avanços nos sistemas CDMA (Code division multiple Access) e GSM (Global System for Mobile Communications) e o uso do UMTS (Universal Mobile Telecommunications System), permite aos operadores de serviços entrarem no Quadruple Play e ganharem vantagem competitiva em relação a outros fornecedores. O agrupamento de serviços (Triple ou Quadruple) é chamado multi-play.

   Os desafios da oferta Triple Play estão mais relacionados com a determinação de um modelo de negócio acertado, os processos principais, o suporte ao cliente e o ambiente económico, do que com a tecnologia. Por exemplo, usar uma plataforma de preços adequada para conseguir variedade na demografia dos clientes ou ter uma densidade de clientes apropriada para justificar financeiramente a introdução do serviço são alguns factores que afectam a decisão de oferecer o serviço Triple Play.