Aspectos Económicos
O principal interesse por parte do operador relativamente a um serviço de voz HD prende-se com a vantagem competitiva que adquire, em mercados tendencialmente saturados, por dois aspectos. Primeiramente, oferecendo uma qualidade superior perceptível pelo cliente, o operador poderá assim conquistar uma maior fatia do mercado das comunicações móveis. Em segundo lugar, através de uma melhoria da relação qualidade versus ritmo binário, a largura de banda exigida ao operador por cliente será naturalmente inferior permitindo-lhe por isso ganhos em termos de capacidade do seu sistema.
Para além destas, existem ainda vantagens relacionadas com a uniformização dos codecs de voz: a redução dos custos operacionais dos operadores tradicionais principalmente com equipamento de transcoding [14]. No entanto, se por um lado a transição para voz HD permitirá aos operadores tradicionais a redução destes custos, para não falar de latência e processamento na rede, por outro significará a perda de chamadas sobre as tradicionais redes telefónicas para as redes de comutação de pacotes. Service Providers como o Skype poderão assim aproveitar a voz HD, ou VoIP HD, como vantagem competitiva para entrar também neste mercado.
Quer por razões tecnológicas quer económicas, os codecs de voz surgiram adaptados a diferentes segmentos de mercado, nomeadamente rede fixa, ambiente empresarial, rede telefónica móvel ou rede de banda larga. Nesse sentido, os codecs AMR-WB e VMR-WB surgem principalmente adaptados aos sistemas de comunicações móveis sobre redes de circuitos comutados, mas também sobre redes de comutação de pacotes, e portanto VoIP.
No entanto, com a crescente maturidade das tecnologias de suporte ao VoIP, a divisão entre codecs de voz para estes dois tipos de redes, comutação de pacotes e circuitos, torna-se cada vez mais ténue. Codecs de voz como o G.722, G.722.1, AAC Enhanced Low Delay, Speex, SILK ou iSAC que foram desenvolvidos para outros segmentos que não especificamente o das comunicações móveis, adaptam-se agora relativamente bem a este mercado. Neste sentido, e tendo em conta esta tendência de convergência de tecnologias para o futuro, destacam-se aqui dois codecs, importantes quer por razões tecnológicas mas principalmente por razões económicas: os codecs SILK e iSAC. A análise comparativa incluindo também estes dois codecs principais é resumida na Tabela 5.
De facto, o hype que rodeia a voz HD está patente em análises de referência como a divulgada pela Gartner em 2009, segundo a qual “dentro de dez anos, mais de metade do tráfico de voz móvel será transportado usando VoIP end-to-end”. Reconhece-se também que a adopção de voz HD na rede fixa tem um papel importante nesta introdução da voz HD nos serviços móveis.
O AMR-WB surge como o standard de facto para a voz HD em comunicações móveis, salvaguardado, apesar de tudo, por uma pesada patente mantida por algumas das mais influentes empresas do mercado. Também o VMR-WB, patenteado pela Nokia e VoiceAge, é a solução HD para o cdma2000 (tecnologia actualmente 3G dominante nos EUA), embora este ceda naturalmente lugar ao AMR-WB em futuros sistemas de comunicações, e.g. Long Term Evolution (LTE), 4G, como mostrado na Figura 7.
O SILK surge como grande aposta do Skype e afirmando-se superior ao AMR-WB [15], permite chamadas Skype-to-Skype sobre a rede de banda larga 3G usando o iPhone [16]. Sendo um codec open source, o Skype reconhece desta forma a importância vital de equipamento de suporte para o sucesso do codec. Assim, se a curto prazo o SILK for adoptado por fabricantes de circuitos integrados ou software, o seu codec será mais rapidamente desenvolvido, reduzindo-se, por exemplo, o número de ciclos de CPU necessários para codificação/descodificação, o consumo de potência, o aquecimento do equipamento, etc. Por outro lado, a longo prazo, a estratégia de comunicação sobre a plataforma do Skype exigirá interoperabilidade que só é atingível se forem largamente disponibilizados os componentes necessários para interoperar com um cliente de Skype [17].
Alternativamente, codec iSAC surge também destinado a aplicações semelhantes. Desenvolvido pela Global IP Solutions (GIPS), este era até 2009 usado no Google Talk e no Skype, pagando estas empresas pelos direitos do codec. Suportado pela larga adopção de ligações de banda larga, este cresceu em popularidade sendo adoptado por um largo número de aplicações. A GIPS foi mais tarde comprada pela Google, deixando de existir informação sobre a possibilidade de licensing deste codec. Assume-se, no entanto, que este codec poderá estar disponível, embora sobre novas condições impostas pela Google.
AMR | AMR-WB | VMR-WB | SILK | iSAC | |
---|---|---|---|---|---|
Banda (Hz) | [200,3400] | [50,7000] | [50,7000] | Até 12000 | Até 8000 |
Standard | 3GPP (1999) | 3GPP (2001) e ITU-T (2002) | 3GPP2 (2003) | IETF (2009) | IETF (2008) |
Proprietário | Ericsson, Nokia, VoiceAge e Nippon | Ericsson, France Telecom/Orange, Nokia e VoiceAge | Nokia e VoiceAge | Skype | IGIPS (comprada pela Google em 2010) |
Sistema | 2G e 3G | 3G e 4G (UMTS e LTE) | 3G (cdma2000) | Redes de banda larga | Redes de banda larga |
Aplicações | Largamente usado em sistemas GSM e UMTS (2G e 3G) | Redes 3G da Orange Moldova e Orange UK | - | Skype, Steam gaming platform | AOL, Yahoo, QQ, Nimbuzz, WebEx, IBM Lotus, Citrix Online e QQ |
Propriedade intelectual | Licensed | Licensed | Licensed | License Free | Licensed |
Apesar de, através destes codecs, a tecnologia de voz HD estar já pronta há pelo menos mais de um ano [13], existem ainda assim algumas questões que limitam a sua rápida adopção pelos operadores, nomeadamente porque:
- As chamadas telefónicas não são uma killing application para voz HD (apesar dos testes subjectivos revelarem superior qualidade subjectiva), uma vez que a qualidade de voz oferecida é satisfatória. Fenómenos de massas podem, no entanto, levar a uma adopção mais rápida.
- A rede telefónica tradicional não suporta voz WB, assentando antes nas redes de pacotes do 3G e 4G, nas quais a tendência é para all-IP. Exige-se assim investimento nestas redes.
- Os operadores e service providers operam actualmente em ilhas, assegurando a ligação SIP/IP e o mesmo codec dentro da sua rede. Soluções imediatas passam por acordos entre operadores, garantindo voz HD entre as suas redes ou alternativamente o recurso a redes ou dispositivos de hub, assegurando a interoperabilidade entre redes com codecs distintos.
- A voz HD exige boa QoS e baixa latência na rede, esta última afectada por operações de transcoding.
Entre as aplicações imediatas da voz HD contam-se aplicações destinadas principalmente ao segmento empresarial, por um lado, e por outro destinadas aos segmentos de banda larga e móvel do segmento doméstico, nomeadamente:
- Aplicações de tele-conferência, estas sim consideradas a killing application para voz HD, que serão mais fáceis de acompanhar e menos cansativas;
- Aplicações de Interactive Voice Response (IVR), que permitem interagir com o interlocutor através de áudio pré-gravado ou gerado dinamicamente, ou ainda aplicações speech-to-text, ambas usufruindo da melhor qualidade da voz WB que facilita o seu reconhecimento;
- Comunicações em geral, mas especialmente em casos como comunicações entre pessoas cuja língua de conversa não é a sua língua nativa ou ainda em ambientes ruídosos.