Comunicações de Áudio e Vídeo

2011/2012

Streaming Over the Top

O desejo de gozar de uma experiência mais próxima da televisiva convencional, principalmente por parte de faixas etárias mais adultas, tem potenciado o rápido desenvolvimento e comercialização de set top boxes especialmente dedicadas a este tipo de serviços. Estes pequenos aparelhos, como por exemplo a Roku (Fig. em baixo) ou a TiVo, têm a capacidade de reproduzir conteúdos de uma grande variedade de empresas de serviços de streaming, tais como a Hulu, a Netflix, a Joost, entre outros. A Roku, na sua versão mais simples, possui um design cuidado e sóbrio, ligação sem fios à Internet, reproduz vídeo com resolução de 720p e pode ser ligada a qualquer televisão. A isto acresce ainda uma área de aplicações que permite disfrutar de jogos como o popular Angry Birds. O preço varia entre os cerca de 50 dólares da versão mais simples, e os 100 dólares da versão XS que possibilita reprodução em 1080p e inclui um comando remoto com detecção de movimento especialmente desenhado para jogos.

Roku STB
Set-top-box Roku.
Já a televisão, o antigo meio primordial de entretenimento em casa, tem vindo a perder o seu lugar de destaque como grande fonte de conteúdos multimédia em detrimento da Internet, principalmente junto das gerações mais jovens. Em grande parte, esta tendência deve-se ao facto dos conteúdos na televisão não serem tão vastos, personalizáveis e com acesso praticamente instantâneo. Dito isto, seria lógico trazer este tipo de conteúdos para a própria televisão, dotando-a de ligação à Internet. Com efeito, os grandes fabricantes destes aparelhos estão a apostar fortemente no conceito de Smart TVs, em que as funcionalidades típicas de set-top-boxes como a comercializada pela Roku são integradas na própria televisão. O (ainda) elevado custo e as controvérsias associadas com os produtores de conteúdos, que assim vêm ameaçados os seus contratos com as operadoras de cabo tradicionais, têm levado a uma adopção relativamente lenta destes aparelhos, embora a In-Stat preveja que em 2016 100 milhões de lares na América do Norte e Europa ocidental possuam televisões deste tipo.

Perspectiva dos ISPs

A popularidade crescente de serviços do tipo Over the Top, não só no campo do streaming de conteúdos, mas também de voz sobre IP, do qual o Skype é o exemplo mais significativo em termos de popularidade, tem levantado cada vez mais preocupações por parte das operadores de telecomunicações e provedores de serviços de Internet no geral, quanto à sustentabilidade do seu modelo de negócio. De facto, como foi referido anteriormente, estes serviços servem-se da infraestrutura mantida pelos ISPs para distribuir os seus conteúdos, relegando-os para uma posição em que apenas agem como bit-pipes, potencialmente reduzindo as suas margens de lucro.

Tendo em conta que estes serviços muitas vezes competem directamente com as ofertas dos próprios ISPs, particularmente quando estes fornecem serviços de conectividade móvel, levantam-se importantes questões sobre a neutralidade das redes de dados, network neutrality, e até que ponto diferentes conteúdos são tratados de igual modo. Embora grande parte dos intervenientes na discussão defenda que as redes de dados devem operar de forma agnóstica em relação aos conteúdos que transportam, a cooperação entre o fornecedor de conteúdos e o gestor da rede pode trazer vantagens ao cliente final, nomeadamente a nível de qualidade de serviço.

Por outro lado, alguns operadores iniciaram a distribuição de conteúdos numa perspectiva OTT, com vista a atrair novos clientes e a penetrar novos mercados que, de outro modo, apenas conseguiriam através de grandes investimentos nas suas já dispendiosas infraestruturas.

Streaming OTT vs PayTV

As empresas de serviços de streaming OTT fornecem serviços de base gratuitos ou mediante o pagamento de uma mensalidade bastante baixa comparada com a das operadoras de PayTV. Oferecem, legalmente, conteúdos semelhantes aos oferecidos pelas operadores de televisão ou pela indústria cinematográfica, com qualidade equivalente ou, por vezes, superior. Logo, é de esperar que as receitas geradas pelos conteúdos e o número de subscrições de serviços de televisão paga (PayTV) decresçam (ver figura em baixo). De facto, uma grande percentagem de utilizadores com subscrições de serviços OTT considera a hipótese de prescindir do contrato de TV por cabo.

Subscritores de OTT e PayTV
Comparação do número total subscritores e da taxa de aumento em duas formas de distribuição de conteúdos: Streaming OTT (Netflix) e cabo/ PayTV.

Do ponto de vista dos detentores de conteúdos, estudos realizados indicam que se se fizesse a substituição total dos serviços de PayTV por serviços de streaming OTT, as receitas das indústrias de vídeo decresceriam significativamente. A solução encontrada para compensar esse gap é a adição de publicidade aos conteúdos enviados ao utilizador.

Tradicionalmente, uma das maiores armas de defesa que a PayTV possui é a transmissão de conteúdos em directo. Isto deve-se fundamentalmente aos casos, como a transmissão de eventos desportivos, em que os consumidores privilegiam fortemente uma experiência de visualização em tempo real. No entanto, os detentores de conteúdos, no intuito de chegar ao maior número de consumidores possível, começam a fornecer os mesmos conteúdos através de live streaming em plataformas OTT. Assim, elimina-se a exclusividade de visualização de certos conteúdos live através de serviços PayTV.

É de referir que as empresas que fornecem serviços OTT não autorizam o descarregamento dos conteúdos enviados ao utilizador para computadores pessoais, smartphones, etc. No entanto, existem programas como o Hulu Downloader e o Hulu Grabber, no caso da Hulu, que o fazem.