Streaming Over the TopUm serviço de OTT streaming caracteriza-se essencialmente pela distribuição de conteúdos de áudio e vídeo através da Internet, suportando-se numa infraestrutura que não lhe pertence e que é, por norma, gerida e mantida por ISPs, Internet Service Providers, ou telcos, num sentido mais lato. Esta filosofia contrasta claramente com os serviços de IPTV tradicionais, usualmente incluídos numa oferta triple-play, em que o provedor do serviço detém e mantém a sua própria rede, podendo ajustá-la às suas necessidades. Este controlo permite que seja facilmente garantida uma certa qualidade de serviço, QoS, na literatura anglo-saxónica. Por outro lado, ao se suportarem simplesmente no protocolo HTTP, os serviços OTT estão sujeitos a flutuações na largura de banda da rede onde estão a ser usados, o que afecta, naturalmente a qualidade da experiência de visualização. Actualmente, as redes IP de banda larga disponíveis, aliadas a novos protocolos desenvolvidos especialmente para OTT, permitem obter níveis de qualidade suficientemente altos para realizar streaming de conteúdos de alta-definição em tempo real através da Internet. É ainda importante notar que, apesar de partilharem algumas características, tal como o protocolo HTTP, o OTT streaming difere dos serviços de Video On Demand, popularizados por portais como o Youtube. Nestes casos, não existem restrições de tempo-real, sendo que o ficheiro a ser visualizado já existe no servidor na sua totalidade e é progressivamente transferido para o utilizador, enquanto a fracção já transferida é reproduzida. Apesar da utilização do protocolo HTTP não permitir garantir um certo nível de QoS, este possui a grande vantagem de ser comum a todos os aparelhos capazes de se conectarem à Internet. Desta forma, os conteúdos transmitidos estão disponíveis em qualquer local e em qualquer um destes aparelhos, desde que suportem o protocolo de OTT associado. De resto, a inexistência de um protocolo único para a realização de OTT streaming é um factor que decerto condiciona a adopção destes serviços, já que limita os utilizadores a consumir apenas os conteúdos disponíveis nos protocolos suportados pelos terminais que utilizam, como se tornará evidente ao longo deste artigo. Exemplos de sucessoO serviço gratuito da Hulu opera com base na Web, ou seja, a entrega de conteúdos aos destinatários é feita com base não numa rede própria mas numa rede já existente, tornando-se assim um serviço Over the Top. Numa abordagem inicial de mercado, a empresa fornecia conteúdos televisivos a parceiros de distribuição, como o Facebook, o MSN, o Myspace ou o Yahoo, que assim enriqueciam os seus portais sem terem que lidar directamente com múltiplos produtores de conteúdos. Embora esta vertente ainda se mantenha activa, o serviço de streaming directo tornou-se o principal modelo de negócio da Hulu, disponibilizando filmes e séries, entre outros, nos Estados Unidos e Japão. Para além do serviço de base, existe ainda uma vertente premium. O Hulu Plus é um serviço sujeito a uma subscrição mensal, bastante baixa, que concede ao utilizador acesso a uma maior quantidade de conteúdos de vídeo. A grande vantagem em relação ao Hulu (base) é a possibilidade de realizar streaming dos conteúdos a partir de uma grande variedade de plataformas, como por exemplo televisões com ligação à Internet, Smartphones, consolas de jogos com ligação à Internet e o Roku Streaming Player. Note-se que é sempre necessária a existência de uma conexão à Internet. Adicionalmente, existe ainda uma aplicação standalone que permite visualizar conteúdos sem utilizar um browser, o Hulu Desktop. Neste caso, é necessário fazer o download da aplicação, à semelhança dos serviços da Joost e da Netflix. O programa corre em computadores pessoais (Windows, Linux e Mac) e pretende proporcionar uma experiência de utilização mais imersiva. Perspectiva do consumidorComparativo dos serviçosOs serviços da Netflix e da Hulu são muito semelhantes em termos de experiência de utilização. Assim, o grande ponto diferenciador reside no tipo de conteúdos disponibilizados. A Hulu foi criada por produtoras de conteúdo para televisão por cabo, entre elas NBC, Fox, ABC, CBS e Nickelodeon. Dito isto, não é de estranhar o forte foco que coloca nas séries televisivas, chegando mesmo a disponibiliza-las na manhã seguinte à emissão. A Netflix, por outro lado, encontra-se mais direccionada à distribuição de filmes, oferecendo uma biblioteca muito mais vasta neste domínio que a sua concorrente, que priveligia conteúdos mais recentes. A Netflix tem ainda uma modalidade adicional que, numa era em que a indústria se encontra claramente a evoluir no sentido de abandonar os suportes físicos, não deixa de ser curiosa. De facto, além do seu serviço de streaming ilimitado por 8$/mês, existe ainda um serviço postal de DVDs que pode ser subscrito pelo mesmo montante e que possibilita o aluguer de um filme ou videojogo, de cada vez. No fim do prazo de aluguer, o DVD deve ser devolvido no envelope em que foi recebido, não existindo multas por se ultrapassar o prazo de devolução. Embora este possa parecer um modelo de negócio algo desactualizado, ainda mais se for tido em conta que existe há 12 anos, continua a ter uma expressão significativa, sendo mesmo uma das razões por detrás da grande base de utilizadores de que goza a Netflix. EquipamentosUm dos principais pontos fortes deste tipo de serviços é, sem dúvida, a enorme variedade de plataformas em que podem ser usados, já que se suportam inteiramente em conexões à Internet já existentes. Como não poderia deixar de ser, a mais óbvia destas plataformas é o computador pessoal, fazendo para isso uso de um vulgar browser com tecnologias como o Flash, que apresenta uma taxa de penetração acima dos 98%. No campo móvel, a taxa de penetração de tablets e smartphones está a aumentar de dia para dia. Esta classe de dispositivos, em que é possível aliar a componente de trabalho à componente lúdica, está a dar um forte contributo à popularização dos serviços de streaming OTT, visto que quase todos eles suportam estes serviços. Neste grupo incluem-se os dispositivos da Apple, Android ou mesmo os da Microsoft e o Kindle da Amazon. Pode-se assim usufruir destes serviços em qualquer lugar, embora a subscrição de um plano de dados generoso seja aconselhável, dada a quantidade de dados a ser transmitida. Adicionalmente, a última geração de consolas lançadas no mercado (Wii, XBox 360 e PlayStation 3) tem a capacidade de ligação à Internet. Além disso, e estando, por defeito, ligadas à televisão, tornaram-se num alvo interessante e natural para os provedores de serviços OTT, pois proporcionam uma experiência de utilização mais tradicional e próxima daquilo a que os consumidores estão habituados num serviço de televisão. Deste modo, introduz-se uma nova funcionalidade num equipamento que o utilizador possa ter adquirido previamente, não sendo necessário a compra de um dispositivo dedicado. A popularidade desta solução está em claro crescimento, como se comprova por um estudo da empresa de medição de audiências Nielsen que indica que mais de metade dos utilizadores do serviço Netflix já usa esta plataforma para se ligar ao popular serviço de streaming. |
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