Opus





Resenha histórica




No decorrer das últimas décadas, tem-se vindo a observar um tremendo avanço a nível de inúmeras tecnologias e nas mais diversas áreas, sendo que o áudio não é exceção. Com o surgimento de sistemas digitais, ocorreu uma revolução na forma como o som é armazenado e reproduzido, sempre com o objetivo de alcançar mais e melhor com o menor número de recursos possível. Nesse sentido, a indústria mostrou sempre um grande interesse em aprimorar os processos de como se codifica o áudio, nomeadamente aqueles que se encontram associados à sua compressão. Assim, tornou-se, então, necessário aprofundar os conhecimentos sobre o funcionamento do sistema auditivo humano, especialmente as suas limitações. Estes estudos, por sua vez, permitiram a criação de sistemas bastante eficazes que passam pela remoção de partes irrelevantes e redundantes dos sinais de áudio, sendo geralmente agrupados numa categoria apelidada de compressão com perdas.

Naturalmente que este tipo de compressão rapidamente se tornou o predileto de vários prestadores de serviços e, consequentemente, de muitos consumidores. As razões desta adoção são variadas, mas passam sobretudo pelo facto de se conseguir armazenar um maior número de informação útil num dado dispositivo, pela viabilidade que confere às aplicações em tempo real e, não menos importante, pela redução de custos de operação decorrentes da diminuição do tamanho dos ficheiros áudio.

Nos últimos anos, como seria de esperar, a maioria dos codificadores quer de música quer de voz assentaram neste mesmo princípio, sendo o Advanced Audio Coder (AAC) e o MPEG-1 Audio Layer 3 (MP3) referências na indústria da música, tal como o Adaptive Multi-Rate (AMR) e o G.729 da ITU-T o são na telefonia. Contudo, estes não são gratuitos, o que significa que qualquer entidade que queira desenvolver aplicações que usem estes formatos não o conseguem fazer sem que seja paga as correspondentes taxas de utilização e de direitos de patente. Ora, esta prática, apesar de já se encontrar bem estabelecida nos mercados offline, não foi bem recebida por algumas comunidades online uma vez que advogam que tais ações são contrárias ao modelo sobre o qual a Internet assenta, para além de imporem sérias restrições ao nível do desenvolvimento tecnológico e de modelos de negócio alternativos. Neste sentido, surgiram diversos codecs de utilização livre dos quais se destacam o Vorbis , para música, e o Speex, para voz. Note se, porém, que nenhum deles alcançou o grau de sucesso que os seus criadores ambicionavam.

Confiantes que eram capazes de aperfeiçoar o seu trabalho, os criadores do Vorbis e do Speex, membros integrantes da fundação Xiph.Org, continuaram os seus esforços a fim de desenvolver um novo codec que integrasse as características das suas soluções anteriores, obtendo, deste modo, um codec capaz de atingir a mesma qualidade do Vorbis e com atrasos algorítmicos ainda mais reduzidos que o Speex. Este codec foi denominado de CELT e visava, assim, a transmissão de música e voz de alta qualidade.

Entretanto, e numa tentativa de evitar o pagamento de taxas de utilização e direitos de patentes a terceiros, a Skype desenvolve a sua própria solução especificamente vocacionada para a telefonia via Internet, conseguindo codificar voz a débitos extremamente reduzidos. Esta solução foi apelidada de SILK.

Mais tarde, no âmbito da criação e padronização de um sistema de codificação de áudio para aplicações interativas, um protótipo de um formato híbrido, composto pelo SILK e pelo CELT, foi proposto à IETF (Internet Engineering Task Force), organização que liderava esta iniciativa. Após ter considerado vários outros codecs, a acabou por aceitar este protótipo, referindo que nenhuma outra proposta era tão versátil, nem tão liberal a nível de licenciamento. Apontaram, ainda, que possuía uma qualidade igual ou superior relativamente aos restantes codecs então existentes pelo que era inquestionável que se tratava da solução mais favorável em termos técnicos. Note-se, porém, que esta decisão gerou alguma polémica, havendo vários participantes que manifestaram o seu descontentamento face à validação da proposta, especialmente os detentores de patentes de tecnologias concorrentes.

No seguimento desta decisão, foi então criado um grupo de trabalho de forma a finalizar o protótipo, tendo assim nascido, meses mais tarde, o Opus que promete revolucionar o mundo áudio.

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